15 de Setembro de 2024 • 06:30
Até agora cinco pessoas são investigadas / Reprodução
A Polícia Civil investiga uma associação criminosa comandada pela facção PCC especializada em furto e roubo de celulares para invadir contas bancárias e fazer transferências via Pix. Depois, os aparelhos mais sofisticados são "exportados" para a África, onde acabam comercializados. A base do grupo é o bairro Bela Vista, na região da avenida Paulista, em São Paulo.
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Até agora cinco pessoas são investigadas. Um homem de 22 anos foi preso na semana passada em uma pensão na rua Major Diogo. De acordo com a polícia, ele foi o responsável por desbloquear um celular iPhone furtado pouco antes de uma mulher que estava parada no trânsito, perto do parque Ibirapuera, na zona sul. Na ação, o aparelho foi levado após o vidro do carro da vítima ser quebrado.
De acordo com o delegado Ânderson Honorato dos Santos, da 2ª Delegacia Patrimônio, ligada ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), o esquema vem sendo investigado há cerca de um mês.
"Essa quadrilha usa a Bela Vista como base porque o bairro fica perto de locais onde ela tem mais facilidade para furtos e roubos de celular", diz o policial, que cita a avenida Paulista.
Levantamento realizado recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo, com base em análise de boletins de ocorrência, mostrou que a avenida Paulista é líder de furto de celular na capital. Na via, foram 2.804 registros na Polícia Civil no ano passado.
Segundo o titular da delegacia especializada, há funções bem definidas na quadrilha. O esquema começa com o furto de celular -roubo, diz ele, só ocorre em último caso, quando há reação da vítima. Em seguida, o aparelho é levado para desbloqueio.
O homem preso na semana passada contou, segundo a polícia, que insere o chip do celular furtado ou roubado em um segundo aparelho para "quebrar" senhas e então acessar o telefone da vítima.
A partir daí, um segundo "especialista" entra em ação, para "quebrar" senhas bancárias e acessar as contas. "Ainda estamos investigando como fazem isso", afirma o delegado.
Na sequência vem o "tripeiro", como é conhecido o responsável pelo gerenciamento dos "conteiros" -pessoas que negociam o uso de seus dados bancários em troca de um percentual do lucro- ou então de contas abertas com documentação falsa. É ele quem coordena saques e transferências.
Além da prisão do jovem na semana passada, a polícia apreendeu celulares de suspeitos de fazer parte do esquema. Com autorização judicial, investigadores pretendem rastrear trocas de mensagens que mostrem as transações.
Tudo, de acordo com o delegado, é muito rápido, para evitar que bancos tenham tempo de bloquear as contas das vítimas. "Tem que ser, no máximo, no mesmo dia", explica. Por isso, ele ressalta, quem teve o celular levado deve registrar logo o caso, além de avisar o banco.
Segundo as investigações, o esquema descoberto na Bela Vista não foi criado pelo PCC. De acordo com Santos, primeiro a facção criminosa tentou coibir furtos de celulares na região, para evitar a presença da polícia. Mas, quando descobriu a lucratividade, assumiu o comando dessas ações.
"Numa conta grosseira, calculamos que, em média, R$ 50 mil são desviados das contas bancárias das vítimas [a cada caso]", afirma o delegado Santos. "Há casos menores, de R$ 2 mil, mas os saques podem passar de R$ 100 mil", diz.
Por enquanto, a delegacia só conseguiu fazer ligação do PCC com golpes do Pix na célula da Bela Vista. Mas a facção pode estar envolvida em outros crimes do tipo, já que, segundo o delegado Santos, vítimas de sequestro para saques de dinheiro só são levadas para cativeiros em comunidades dominadas pela organização criminosa mediante sua autorização.
"De tudo que gera lucro o PCC se arvora", afirma o delegado.
Rafael Alcadipani, professor da área de segurança da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que o crime passou a notar que esse tipo de ação vale muito a pena. Ele lembra ainda que a origem do PCC é o roubo a banco e que agora as pessoas têm uma agência bancária nas mãos.
"Manter uma célula dessas é muito mais rentável do que correr o risco de trocar tiros com a polícia e ser morto em um assalto a banco", diz.
A vítima furtada perto do Ibirapuera, que não havia dado queixa, foi identificada pela polícia porque deixou sua carteira de habilitação entre a capa do celular e o aparelho. "Ela não queria nem vir buscar o telefone porque estava com medo", diz o delegado.
Caso não tivesse sido recuperado, o celular da vítima poderia ser "exportado". "Um iPhone bloqueado dificilmente vai funcionar depois no Brasil", explica Santos.
De acordo com a polícia, os aparelhos da Apple costumam ser entregues pela quadrilha para nigerianos no centro de São Paulo que, em esquemas de "mulas" -ou seja, contratados para fazer o transporte para o crime-, são levados para países da África, onde o controle é menor.
"Essa é uma segunda parte da investigação, em que ainda precisamos avançar mais", diz. Já os celulares mais simples são comercializados no mercado ilegal no Brasil, afirma o delegado.
INVESTIMENTO
Para Alcadipani, é preciso muito investimento da polícia em qualificação para lidar com essa nova realidade do crime.
"É necessária uma reciclagem nessa questão tecnológica", diz ele, citando que a polícia no Brasil já tem algumas linhas de excelência para combater esse tipo de ação.
De acordo com o especialista, quando a polícia desmonta células do crime organizado, como a descoberta na Bela Vista, é difícil de ela ser refeita novamente, pois é necessária uma "mão de obra" muito especializada.
Questionada sobre prisões relacionadas a furtos e roubos de celular e a golpes envolvendo Pix, a Secretaria da Segurança Pública não respondeu até a publicação desta reportagem.
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