Polícia

Crime organizado do Rio infiltrado na Região

Policial diz que acessos não foram fechados permitindo a fuga de bandidos

Carlos Ratton

Publicado em 18/11/2012 às 16:59

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O que muita gente desconfiava, infelizmente, se confirmou. Em entrevista exclusiva ao DL, um militar na ativa há pelo menos 25 anos, acostumado com o dia-a-dia da tropa, garante que o crime organizado carioca já tomou conta da periferia e dos morros de Santos e Região. “Nós dependemos de Deus”, afirma o soldado, que pediu para que sua identidade não fosse revelada, pois teme represálias tanto dos bandidos, quanto da própria polícia.

Segundo o soldado, muitos companheiros de farda estão preocupados, pois moram em periferias e, mais do que nunca, têm que sair de casa com a farda dentro da mochila e se vestir no banheiro de um estabelecimento comercial longe de sua residência. “Quase todos os dias sabemos de colegas que foram atacados. Mas geralmente esse tipo de problema não é divulgado pelo Comando”, revela. 
 
O policial afirma que quando a polícia do Rio de Janeiro dominou os morros cariocas, a maioria da tropa aqui de São Paulo já estava consciente da necessidade de se fechar as vias de acesso, o que não foi feito. “Todos os marginais que fugiram do Rio estão hoje na periferia de São Paulo, nos morros e bairros da Baixada, como os da Zona Noroeste, em Santos. A maior parte dos marginais que entra em confronto com a gente é do Rio”.
 
O policial lembra que é comum, na Capital, os marginais rodarem com carros de placas do Rio. Ele garante que o Comando da PM sabia dos ataques ocorridos em 2006 e dos atuais. “Mas não quer preocupar a tropa porque os comandantes não querem perder o posto”.  O PM explica que o crime organizado já tomou bairros de Cubatão, São Vicente, Guarujá e Praia Grande. “A inteligência da Polícia sabe disso, mas para combater é preciso se infiltrar e isso, atualmente, é perigoso. Se o policial for descoberto, vai para o Tribunal do Crime”. 
 
Ele revela ainda que, ao contrário do que afirma o Comando, a PM só entra em favela com logística previamente determinada. “O policial que entrar sem autorização do comando pode ser punido. O Comando pensa que o policial foi fazer algum acerto com os marginais ou até pegar propina”, explica, mostrando a falta de confiança para com o efetivo. E vai mais além. Ele afirma que hoje, há policiais que “correm” junto com o crime. Existem homens infiltrados na Polícia Militar e na Civil e não é difícil “a gente tomar um tiro pelas costas disparado por um colega de farda”. 
 
Ele conta que tudo isso ocorre porque o processo seletivo não busca os melhores e que o serviço reservado da PM, que tem a função de investigar a vida dos candidatos, não está sendo levado em consideração pelo Governo. “Recentemente, 80% dos candidatos que foram investigados foram reprovados por apresentarem algum tipo de desvio de personalidade, de conduta ou por pequenas pendências criminais. No entanto, um oficial disse ao pessoal do reservado que a situação atual da PM exige quantidade e não qualidade”. 
 
Sem respaldo
 
O soldado reclama que o Comando não dá amparo legal para a tropa agir. Qualquer disparo é punido com rigor. Um tiro de advertência pode levar o policial ao Romão Gomes (presídio militar). “Temos que pensar 10 vezes antes de atirar e cinco segundos de vacilo pode ser fatal para você, para seu companheiro de farda e para o cidadão de bem”, conta.
 
Em caso de assalto a banco, a determinação do Comando é não enfrentar enquanto não chegar reforço o que, muitas vezes, não chega a tempo de evitar o confronto entre os bandidos fortemente armados e os policiais apenas com pistolas, pois o armamento pesado só pode ser carregado se houver um oficial acompanhando. “É uma pistola contra o fuzil ou uma metralhadora”.
 
Bico
 
Segundo o soldado, a perda salarial, entre R$ 100,00 e R$ 1 mil, relativa a conquistas trabalhistas como quinquênios, sexta parte e horas-aula (policiais que lecionam), gerou grande revolta na tropa.  A polêmica foi fruto da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender o recálculo dos benefícios dos sócios das associações de Cabos e Soldados do Estado e dos Oficiais de Reserva. Os valores incidiam sobre os adicionais que compõem o total que os militares recebem junto com os salários.  “Hoje, cerca de 80% da corporação faz bico e se o policial for pego com qualquer armamento da polícia é preso, exonerado e responde civilmente. Existe a Operação Delegada, um bico autorizado pelo Governo que não dá direitos trabalhistas. O tempo de trabalho na operação não conta para a aposentadoria”.
 
Comando se defende
 
A Polícia Militar, por meio da assessoria, rebate a denúncia alertando que as revelações são descabidas e, feitas anonimamente, não deveriam ser utilizadas para pautar o assunto de extrema importância para a Instituição e, principalmente, para a sociedade. Acredita que o Comando não teve acesso com antecedência para poder comentar com propriedade as alegações desvairadas e citar, sem qualquer concretude, que a PM era ciente da onda de violência é desconhecer a própria Instituição que preza pela proteção de cidadão e do próprio policial, que antes de se uniformizar também é um cidadão. 
 
Segundo a Corporação, mencionar que há ordem para não entrar em confronto é desconhecer o método de tiro na proteção da vida e a legislação penal brasileira. Também declarar a existência de tiro de advertência é ratificar o total desconhecimento da lei, pois além de ilegal, não é aplicado nos treinamentos de tiro da Polícia e, consequentemente, a sua prática poderá trazer resultados indesejados e colocar em riscos outras pessoas. Ainda segundo a Corporação, é notória aos policiais a maneira de autuação diante das ocorrências. Há procedimentos padrões a serem adotados para garantir a melhor solução da ocorrência, a maior proteção dos policiais, a salvaguarda de vítimas e de outras pessoas. 
 
Leviana a indicação de que policial na favela é sinal de propina. A PM só penalizará o seu integrante se for comprovado o cometimento de crime e não supor a prática disso ou aquilo. O que se pretende ao entrar em locais de maior risco é garantir a segurança do policial, visto que devem ser aguardados os reforços para ingressar em tais locais. Outro absurdo é externar que o processo seletivo não visa buscar os melhores candidatos, deixando de investigá-los. É desconhecer a Instituição, pois se constata a eficácia na seletiva lendo o Diário Oficial do Estado.

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