Para Caroline Daitx, o caso segue o padrão violento de outros feminicídios / Igor de Paiva/DL
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O caso do sargento da Polícia Militar que assassinou a esposa em uma clínica dermatológica no bairro Maparé, em Santos, chocou a população local por conta de sua violência. O crime aconteceu no último 7 de maio, quarta-feira.
Em entrevista ao Diário do Litoral, Caroline Daitx, médica especialista em medicina legal e perícia médica, explicou de forma detalhada os danos que os golpes causaram na vítima.
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Segundo informações presentes no laudo médico, a mulher foi atingida por três disparos e esfaqueada 51 vezes, o que resultou em sua morte por hemorragia interna traumática.
Considerada uma referência em sua área de atuação por diversos trabalhos marcantes, como na direção científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná, a especialista explicou que, apesar dos inúmeros ferimentos, a morte pode não ter sido instantânea.
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“Perfurações no coração, na aorta ou na veia cava são geralmente fatais em segundos ou até três minutos. Se os golpes atingem principalmente órgãos como o fígado, baço ou pulmões, a sobrevida pode variar de cinco a quinze minutos, mas sempre com extrema gravidade clínica e sofrimento intenso, caso não haja intervenção imediata”, explicou.
A legista também ressaltou que, em casos como esse feminicídio ocorrido no litoral de São Paulo, é muito comum que a vítima tente se defender dos golpes.
“As lesões de defesa normalmente se manifestam na forma de cortes, lacerações ou perfurações nas mãos, antebraços e braços, indicando que a vítima tentou segurar a lâmina ou bloquear os golpes”, afirmou Caroline.
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Em ataques como esse, as estruturas anatômicas mais vulneráveis são os músculos, nervos periféricos, grandes vasos sanguíneos e, principalmente, órgãos vitais como coração, pulmões, fígado, baço, rins e intestinos.
“A depender da localização dos golpes, podem ser comprometidos músculos do tórax, abdômen, dorso e membros, além de vasos de grande calibre como as carótidas, subclávias, aorta torácica e abdominal, veias cava superior e inferior e jugulares”, explicou.
Lesões com rompimento de nervos periféricos — que conectam a cabeça, face, olhos, nariz, músculos e ouvidos ao cérebro e fazem parte do sistema nervoso — também são comuns em ataques como o ocorrido em 7 de maio.
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“Quando os nervos são seccionados, a vítima apresenta perda de força, paralisia, perda de sensibilidade e dificuldade ou incapacidade total de continuar se defendendo. Embora não sejam lesões que conduzam diretamente à morte, contribuem significativamente para incapacitar a vítima e agravar o quadro geral de vulnerabilidade”, detalha a especialista.
Recentemente, o advogado da família da vítima deu mais detalhes sobre o caso.
Para Caroline Daitx, o caso segue o padrão violento de outros feminicídios. Em geral, esse tipo de crime costuma apresentar características marcantes nos ferimentos.
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Na maioria das vezes, o agressor busca atingir áreas que representam a identidade e a integridade da mulher, como rosto, tórax e abdômen. Geralmente, as perícias e os laudos confirmam que as vítimas demonstram resistência, mas sofrem com o excesso de violência, somada à tentativa de dominação, destruição ou desfiguração — o que resulta em uma tragédia que vai muito além do aspecto físico.
Conforme informações disponíveis no boletim de ocorrência, a vítima se dirigiu até a clínica com a filha de dez anos e informou estar sob ameaça do marido e que ele estava armado.
Logo após, ela se trancou com a criança em um consultório enquanto alguns funcionários solicitavam o apoio da Polícia Militar.
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Dois policiais chegaram até o local e fizeram a abordagem do sargento ao lado de fora, mas não encontraram nenhuma arma.
Na sequência, o sargento foi até a sala onde a vítima estava abrigada com a filha, a esfaqueou 51 vezes e disparou mais de dez tiros contra a esposa. A filha também foi baleada.
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Os disparos foram ouvidos pelos policiais. Eles retornaram ao local e prenderam o sargento em flagrante. Mesmo assim, a dupla é alvo de inquérito policial por omissão.