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Papo de Domingo

'Temos partidos demais', diz Rosana Valle

Rosana recebeu a nossa equipe e falou sobre suas impressões e conquistas após os nove meses de mandato.

Da Reportagem

Publicado em 20/10/2019 às 12:55

Atualizado em 21/10/2019 às 18:03

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Rosana Valle (PSB-SP). / Diego Freire

*Por Diego Freire

Rosana Valle (PSB-SP) resolveu deixar a profissão de jornalista, que exerceu por 25 anos em uma afiliada da Rede Globo, e concorrer à Câmara dos Deputados com a vontade de, segundo ela, melhorar a vida dos brasileiros. Com uma campanha distrital, elegeu-se com 106 mil votos. Rosana recebeu a nossa equipe e falou sobre suas impressões e conquistas após os nove meses de mandato.

Diego Freire - Como avalia seu mandato até agora?

Rosana Valle - Estou me esforçando ao máximo, procuro todos os dias dar o melhor de mim. Sem desviar do objetivo me trouxe até aqui: trabalhar para melhorar a vida dos brasileiros, pra fiscalizar leis que não são cumpridas, pra sugerir novas, para lutar por projetos importantes que tragam desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida para os moradores do estado de São Paulo e sobretudo da região que eu represento.

DF - É o que esperava? Teve alguma decepção? E alguma alegria?

RV - Esperava que seria um caminho difícil, mas aqui estou evoluindo como pessoa. A decepção realmente acontece quando você se dá conta que, por mais que você trabalhe incansavelmente e faça um mandato sério, por mais que você dê satisfação de todas as suas posições e atitudes, sempre haverá uma parcela que será contra, não importa o que faça. A alegria é encontrar nas ruas as palavras de apoio e incentivo da maioria das pessoas. São elas que me ajudam a não desistir, apesar da batalha diária que travamos pela moralização da política.

DF - O que fez a senhora deixar a TV e entrar na política?

RV - Até hoje me pergunto o que aconteceu porque eu nunca me imaginei na política. O que reflito hoje é que foi uma vontade que não consegui controlar. Senti uma grande necessidade de usar todo o conhecimento que adquiri da realidade de minha região em benefício dos moradores. Tenho convicção que me tornei uma pessoa melhor depois de todas as histórias que contei e lições de vida que observei em meu trabalho como jornalista.

DF - Sente saudade de trabalhar na televisão?

RV - Sim, sinto muita saudade, mas não me arrependo de nada. Escolhi esse desafio, as pessoas confiaram em mim e vou honrar cada dia desse trabalho que encaro como missão.


DF - Como a senhora avalia o parlamento brasileiro?

RV - Temos um sistema viciado e ultrapassado. Temos partidos demais, parlamentares demais e muitas discussões vazias que não levam a nada. Isso para uma jornalista que aprendeu a ser prática e resolutiva é angustiante, porém entendo que não há outro jeito de modificar esse mecanismo se não tivermos pessoas aqui que pensam de maneira diferente e que queiram promover mudanças.

DF - Como a senhora faz para manter e reforçar sua relação com a população de São Paulo?

RV - Fui eleita de maneira distrital, tive 106.100 votos e foram quase todos na região da Baixada Santista, Vale do Ribeira e Litoral. Tenho um conhecimento grande dessa região e estou sempre em contato com a população daqui pra saber como minhas ações em Brasília podem contribuir pra melhoria da realidade regional. Nas questões do estado de São Paulo e nacionais também tenho agido desse modo. Procuro estar alinhada com os interesses da maioria dos brasileiros que quer ter trabalho, acesso à saúde, segurança e educação, e nas votações tenho sempre isso em mente.

DF - Na sua opinião qual é o principal problema do estado de São Paulo?

RV - Em agosto do ano passado, um importante instituto de pesquisa (Ibope) perguntou para a população de São Paulo, qual o maior problema do Estado. Pela ordem foram a Saúde, Educação e Segurança, que alias, o que não é novidade, pois esses são problemas recorrentes em todo o país. Eu acrescentaria ainda o desemprego. Eu acho que também existem graves problemas de moradia, principalmente nas periferias das grandes cidades. São Paulo é o estado mais rico da nação, mas ainda existem regiões carentes como o Vale do Ribeira, que tem um grande potencial mas precisa de investimentos para avançar. O governo paulista lançou esta semana um pacote de investimentos na região, espero que dê certo.

DF - E qual o maior problema da região da Baixada Santista?

RV - A Baixada Santista sofreu muito com a crise dos últimos anos. Os investimentos do pré-sal não se concretizaram, a construção civil minguou, o desemprego cresceu e o porto também sentiu os efeitos da crise econômica. Por conta do adensamento urbano e falta de áreas, temos graves problemas de moradia, principalmente nos cinturões em torno das maiores cidades. A saúde pública repete um ciclo de problemas de atendimento, agravados com a migração de quem tinha plano de saúde, para o SUS. No meu ponto de vista só podemos minimizar esses problemas com o avanço econômico do Brasil, o que parece que está acontecendo. Isto vai gerar mais recursos para as prefeituras e o governo agirem em benefício da população. Para isso precisamos de comprometimento, honestidade e muito trabalho das autoridades responsáveis pela gestão no Estado.

DF - Nesses primeiros meses na Câmara qual o principal projeto que a senhora apresentou?

RV - Apresentei 46 projetos e acredito que todos eles são relevantes e importantes. O mais recente foi aprovado por unanimidade na comissão de meio ambiente. Esse Projeto de Lei proíbe a instalação de novas cavas subaquáticas no Brasil e obriga que as já existentes sejam extintas. É um projeto importante pois não é certo deixar esse legado tóxico para as próximas gerações. As cavas são como aterros sanitários no fundo do mar. Elas recebem resíduos sólidos tóxicos retirados de áreas contaminadas. Existem duas no Brasil: uma em Cubatão, do tamanho do estádio do Maracanã, e outra no Rio de Janeiro.

DF - Pretende disputar a prefeitura de Santos em 2020?

RV - Gostaria muito de um dia ter a honra de ser prefeita da minha cidade, mas, no momento, estou focada em fazer um mandato que possa ajudar todas as cidades de minha região.

DF - Qual seu maior sonho?

RV - Meu sonho é deixar um legado para a minha região, para as mulheres e ser lembrada no futuro como uma parlamentar que fez diferença na política. E, há muito ainda por que lutar pois vivemos num mundo desigual.

DF - O Brasil tem jeito?

RV - Se depender de mim, o Brasil tem jeito sim! E de você? As ações que podem mudar o País dependem de cada um.

DF - Sobre o governo Bolsonaro como a senhora avalia?

RV - Avalio como um governo atrapalhado, que enfrenta muitos problemas, que não tem foco, mas que possui alguns integrantes na equipe que estão trabalhando sério para votar as reformas necessárias para o país sair da crise. Estamos vivendo um momento muito difícil e não há como comparar o governo atual com o de presidentes anteriores. Bolsonaro herdou um País em recessão. Estamos em uma crise social, econômica e uma polarização que se atiça através das redes sociais, da qual o presidente faz parte. Acredito que não é hora de pender nem para um lado nem para o outro, mas caminhar para a frente.

DF - E governo Doria, como você avalia? 

RV - O governador João Doria me parece empenhado em fazer um bom governo, o que significa ganhos numa eventual candidatura presidencial. Tenho tido contatos com a equipe do governo estadual e fiquei satisfeita com o atendimento das minhas reivindicações e com a capacidade dos secretários. É claro que são os primeiros meses de uma gestão e que existem problemas graves para serem resolvidos. Particularmente fiquei satisfeita com o olhar do governador para o Vale do Ribeira, através do projeto Vale do Futuro, que visa promover o desenvolvimento na região. Conheço bem o Vale e sei da desigualdade que existe naquelas cidades. Há anos que o Vale do Ribeira estava praticamente esquecido por sucessivos governos estaduais. Ações como esse me deixam otimista em relação ao trabalho do governo de São Paulo.

DF - A senhora votou a favor da reforma da previdência e por isso sofreu sanções de seu partido, outros parlamentares que sofreram as mesmas sanções essa semana anunciaram que iriam a Justiça para serem autorizados a saírem de seus partidos e continuarem no mandato, a senhora pretende fazer o mesmo? Qual o motivo para não participar da ação em conjunto com eles?

RV- Não quis me precipitar. Votei e sempre votarei com a minha consciência e os interesses dos eleitores de minha região. Eu tenho uma história e vou seguir essa coerência durante todo o mandato. Difícil nesse momento decidir mudar de partido, mesmo porque eu não tenho uma linha ideológica que se encaixe em um partido específico. Não sou 100% direita, esquerda, centro... eu voto analisando o projeto. Posso votar contra o governo ou a favor dependendo da avaliação que fizer. Se mudar de partido, com certeza terei divergências também. Como não aprovamos a reforma política com candidaturas avulsas, vou avaliar melhor o que fazer sobre essa questão do partido. Meu posicionamento continuará ponderado e equilibrado independentemente do partido que esteja. Acredito que a população deu um recado muito claro nas urnas, queremos pessoas que encarem a política de forma diferente.

DF - Quem é Rosana Valle? 

RV- Sou a mãe do Enrico, um jovem de 18 anos e do Bernardo, uma criança de 10. Sou uma jornalista que viu muito da vida, que viajou o mundo, que mostrou também a realidade dos lugares e das pessoas mais humildes. Sou uma cidadã brasileira, cheia de boa vontade e de esperança e que foi eleita deputada federal pra colaborar com a mudança que tanto queremos na política.

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