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Rafaella Martinez
Em 1922, Anita Mafaltti retratou em forma de desenho a convivência cultural em um dos ateliês de Oswald de Andrade, no “Clube dos 5”. A imagem mostrava um espaço aberto para o encontro e troca entre artistas. Noventa anos depois, um reduto no centro de Santos reproduz exatamente a cena que deu origem a um dos marcos na história cultural: a Semana de Arte Moderna.
A Vila do Teatro é fruto de uma ocupação cultural iniciada por um grupo de artistas de Santos após o fechamento da Cadeia Velha. Ali mesmo, na esquina da antiga cadeia, um imóvel abandonado chamou a atenção da trupe, que após pesquisa descobriu que o equipamento pertencia ao Poder Público.
Foi assim que se deu o início a uma série de tratativas junto à Prefeitura, que por meio da Secretaria da Cultura cedeu o imóvel para a classe artística através de uma concessão de uso.
O espaço foi inaugurado em maio de 2012, no mesmo dia em que as grades foram retiradas da Praça dos Andradas, por determinação do Ministério Público. Ato simbólico ou não, o surgimento da Vila agitou a vida cultural do centro de Santos e foi fundamental para a disseminação da arte para muito além dos limites físicos impostos pelas paredes do local.
O espaço recebeu a classe artística já repleto de histórias: no passado foi rancharia do barão de Mauá, centro de controle de Zoonoses (“carrocinha”), albergue noturno e Centro de Triagem da Antiga Febem. Hoje, há oficinas permanentes de circo e teatro de rua. Além disso, é sede de grupos da região e se transforma em palco alternativo para apresentações teatrais sempre que há necessidade. O local também é sede do Movimento Teatral da Baixada Santista e guarda o acervo do FESTA (Festival Santista de Teatro) e do Curta Santos (Festival Santista de Cinema).
Por vezes, mais importante do que os eventos culturais é o convívio que se gera entre artistas, críticos e pessoas comuns em torno de um espaço de cultura. A Vila do Teatro funciona desta forma: é desobstruída de regras fixas e qualquer um é bem-vindo para entrar. O espaço é aconchegante e privilegia o conforto, a conversa e a troca de experiências resultantes dessa parceria.
Como está escrito no próprio banner de entrada da Vila: “Desde 2012 nesse pedaço de mundo onde outrora passou um bracinho do riacho que corria para a praça, não e sacrifica mais animais, não se encarcera mais crianças e nem se entulha mais seres humanos excluídos. Hoje aqui nessa esquina se produz pensamento crítico, arte libertadora e utopias”.
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