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Papo de Domingo

Sidnei Bibiano fala sobre a luta dos moradores do Rabo do Dragão

Líder da Associação de Moradores da Cachoeira, Sidnei Bibiano dos Santos, fala sobre a luta da comunidade caiçara, em pleno século 21

Carlos Ratton

Publicado em 23/04/2017 às 11:30

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Há décadas, a principal palavra que vem à mente de quem conhece a vida de dezenas de famílias que moram à beira da Rodovia Ariovaldo Viana (estrada Guarujá-Bertioga), nos bairros localizados numa área conhecida como Rabo do Dragão, é resistência.

Esse povo caiçara lutador resiste a tudo. Resiste a falta de postos de saúde adequados, de escolas próximas, de transporte digno, de infraestrutura urbana e, ainda, à especulação imobiliária e à pressão para expulsá-los de suas moradias.

Até o direito ao voto é dificultado. Na entrevista deste Papo de Domingo, conversamos com um dos líderes da resistência, o presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Cachoeira, Sidnei Bibiano Silva dos Santos. Confira:

Diário do Litoral – Você e a Associação conseguiram obter um benefício que em outros lugares de Guarujá e do Mundo já é uma realidade há tempos.

Sidnei Bibiano Silva dos Santos – Sim, o acesso à Internet. Cansamos de pedir para que as autoridades de Guarujá – Câmara e Prefeitura - se esforçassem para nos trazer o benefício, fundamental hoje em dia. Tinha até uma ação aberta no Ministério Público, mas nada ocorreu. Foi quando procuramos uma empresa de Bertioga, que nos ofereceu um projeto social, com acesso à rede a baixo custo. Agora temos informação e condições de nos comunicar de forma rápida e eficiente.

DL – Assim fica mais fácil a mobilização dos moradores?

Bibiano dos Santos – Sem dúvidas. Também podemos mostrar ao Mundo nossas lutas e necessidades. Ninguém mais ficará isolado no Rabo do Dragão. Também poderemos denunciar descaso, desmatamentos e crimes contra o meio ambiente com mais eficácia. Até então, somente os condomínios de alto luxo tinham a tecnologia. Nós, caiçaras legítimos, vivíamos praticamente implorando. Uma empresa de Bertioga nos ofereceu um projeto social, com acesso à rede a baixo custo. Agora, estamos on-line.

DL – Há uma pressão muito grande para vocês deixarem suas moradias e saírem da beira da estrada, não é mesmo?

Bibiano dos Santos – Não querem a gente aqui. Cortaram acessos ao transporte, à saúde, educação. Tínhamos uma escola estadual que funcionou de 1963 a 2004. Há uma imensa pressão de empresários junto ao poder público no sentido de afastar da gente o acesso a serviços sociais, para que a gente abandone os bairros do Rabo do Dragão. Isso vem ocorrendo já em todo o Litoral Norte e em todo o Brasil. Os ricos não querem ver caiçaras quando vão para suas mansões à beira mar. As comunidades vêm sendo minadas aos poucos.

DL – Como isso fica evidente?

Bibiano dos Santos – Quando pedimos ao Poder Público uma benfeitoria. Mesmo cumprindo toda a burocracia, ela não chega ao Rabo do Dragão. Já fizemos vários abaixoassinados pedindo melhor transporte, mais postos de saúde, escolas, e nada ocorre. Não avançamos.

DL – Existe um grande equívoco. Alegam que vocês, caiçaras, degradam o meio ambiente.

Bibiano dos Santos – Isso por conta da especulação imobiliária. Não somos depredadores, somos preservadores. Entendemos que a preservação da natureza é a nossa principal arma em defesa da moradia.

DL – Quantas família moram no Rabo do Dragão?

Bibiano dos Santos – Em agosto de 2006, a Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá fez um cadastro que acabou sumindo dentro da Prefeitura. Um absurdo. Mas eu tenho parte dele. Isso vem causando dificuldades para regularizar a comunidade. O levantamento dava conta de 350 imóveis. Sem regularizar a comunidade, não temos acesso a serviços essenciais. No entanto, desde 2013, temos um registro junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU), que garante nosso direito. Hoje, por exemplo, conseguimos implantar uma colmeia para correspondências via Correios. Mas ainda lutamos por iluminação pública, por exemplo.

DL – As moradias remontam aos anos 40, é isso?

Bibiano dos Santos – Meu avô chegou à região em 1946. Os loteamentos não existiam. A rodovia não existia. Aliás, entendemos que a rodovia, na verdade, começa na Rua Acre (Guarujá) e vai até a balsa de Bertioga. Tenho documentos que provam isso. Mas existe uma concessão feita à Prefeitura pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) que vai somente até o bairro Jardim Acapulco II. Hoje, todo o bairro do Perequê está na área do DER, existem restaurantes, marinas, condomínios, escola estadual, comércio em geral e moradias na área do DER. Deve existir cerca de 31 mil pessoas e, no entanto, as 350 famílias dos quilômetros 11 ao 22 é que incomodam o órgão.

DL – Além da Internet e a colmeia, há outras reivindicações a serem conquistadas?

Bibiano dos Santos – As melhorias que mencionei antes e uma urna eleitoral. Queremos uma urna eleitoral na região. Não dá para em pleno 2017 ainda termos que nos martirizar para garantir o direito básico e constitucional de escolhermos nossos representantes.

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