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“Parece, mas não é: qualquer semelhança não é mera coincidência”

Bastante crítico, o filme revela cenas reais editadas e manipuladas, que invertiam totalmente os fatos

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 09/09/2015 às 20:44

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Simone Carleto*

Chovia muito na terça-feira pós-feriado de 7 de setembro. Naquela tarde, a peça ‘Essa partida não será televisionada’’, da Cia. do Elefante - Tescom, seria apresentada no espaço anexo ao Teatro Municipal, numa área térrea com vista para a avenida em frente. Apesar de o clima ter prejudicado a presença do público, aproximadamente trinta pessoas chegaram para assistir ao grupo, que se preparava animada e coletivamente para o início do espetáculo. A primeira informação a chamar a atenção é a semelhança do título com o documentário irlandês de 2003, ‘A revolução não será televisionada’, que trata das manobras golpistas, com apoio midiático, para derrubar o governo da Venezuela. Bastante crítico, o filme revela cenas reais editadas e manipuladas, que invertiam totalmente os fatos. Assim, representa um documento histórico para comprovar os desmandos de um sistema perverso.No caso do trabalho da Cia., a sinopse sinaliza para uma narrativa em que o futebol se apresenta como estrutura e tema, o que, na programação do Festival não pode ser conferido. Tanto no que se refere ao tema quanto à forma, a proposta é igualmente abandonada durante a encenação.

A peça é iniciada com anúncio de aquecimento, o que de fato já aconteceu aos olhos do público. Depois, é anunciado o fim do primeiro tempo e, em seguida, há um intervalo com diálogo com o público, em que são buscados os melhores momentos da vida pessoal, conforme primeira revelação de um dos atores/uma das atrizes. Na sequência, é encenado um intervalo, com a conhecida - para aqueles que frequentam estádios ou assistem pela televisão -, venda de produtos. Para tanto, é apresentada uma vendedora, uma pessoa “do povo”, trazida para a cena de modo caricato.  Para representá-la, a atriz articula a palavra produto como “poduto”. Esse tipo de abordagem, apesar de haver uma narração durante a ‘partida’ que afirma ‘A Cia. do Elefante é contra qualquer tipo de preconceito’, é presente do início ao fim do espetáculo, com outras incoerências.

A temática futebolística é também deixada de lado após o referido intervalo e o início do segundo tempo. Na tentativa de defender pontos de vista contra a televisão, a favor da mulher e da justiça, são utilizadas ‘jogadas’ fora do rol de passes do futebol-arte. Desse modo, ao mesmo tempo em que questiona o papel de emissoras de televisão (sem discutir a função social do meio de comunicação), a montagem reforça a linguagem televisiva, assim como seus recursos apelativos. Uma das questões a ser repensada, do ponto de vista relacional, é a forma de envolver e convocar o público para ‘entrar em campo’. Pessoas do público foram chamadas para concorrer a um brinde ao demonstrar habilidade com a bola. A vencedora acabou numa espécie de armadilha, que a colocou como vendedora de ingressos falsos, pelo que foi condenada, espantosamente (!) sem provas. Dizia Bertolt Brecht: ‘Aprenda o mais simples! Para aqueles cuja hora chegou/Nunca é tarde demais! Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda! Não desanime! Comece! É preciso saber tudo! Você tem que assumir o comando’.

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