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Entrevistas

‘O Setor ferroviário se comunica mal’

O presidente da Ferrofrente, José Manoel Gonçalves, afirma que empresários e governo precisam se entender e retomar ferrovias

Carlos Ratton

Publicado em 22/05/2016 às 11:30

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O jornalista e presidente da Ferrofrente, José Manoel Ferreira Gonçalves, explicou o trabalho da entidade / Matheus Tagé/DL

Criada em janeiro de 2014, a Frente Nacional Pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente) já iniciou tratativas com o Governo Federal no sentido de fomentar, entre outros objetivos, além da eficiência e sustentabilidade do modal ferroviário, sua viabilidade econômica e social, acompanhadas de pesquisas sobre tecnologias pertinentes ao transporte.

Neste Papo de Domingo, o jornalista e presidente da Ferrofrente, José Manoel Ferreira Gonçalves, explicou o trabalho da entidade. Confira os principais trechos:

Diário do Litoral – Esse modal é pouco divulgado para a população, ou não?
José Manoel Gonçalves – O setor se comunica mal. Há vários empresários que dependem do governo e, neste sentido, fazem o jogo do governo e não falam o que tem que ser falado. E, por isso, a Ferrofrente resolveu mover duas ações civis públicas. A contra o Governo Federal é porque foi construída a Ferrovia Norte-Sul, no trecho que liga Anápoles em Goiás a Palmas no Tocantins, que não funciona porque não fizeram a concessão operacional.

Diário – A segunda ação é contra quem?
Gonçalves – Contra o Governo de São Paulo, que parou o monotrilho, que estava sendo construído. Não entregam o projeto executivo para forçar aditivos nas obras. Descobrimos isso e fizemos uma série de indagações e o Metrô de SP fica no jogo de empurra com as empresas responsáveis pelas obras. E a população fica aguardando e o dinheiro público saindo pelo ralo.

Diário – O senhor falou em dinheiro público. Tem valores?
Gonçalves – Com o monotrilho já foram gastos cerca de R$ 2 bilhões. Com relação à Norte-Sul, os valores devem chegar a R$ 7 bilhões. E aí entra a Ferrofrente cobrando providências sobre todos esses gastos e investimentos que acabaram ficando parados. Cobramos a transparência. Existe uma nuvem nessas histórias. Como ocorre no Porto de Santos, que possui 40 quilômetros de ferrovias completamente mal ­administrados.

Diário – Existem outros exemplos?
Gonçalves – Um empresário bolou uma ferrovia de mil quilômetros que ligaria Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará. Ele pediu 60 anos de concessão para poder reaver o investimento. Ele se reuniu com a gente e nós perguntamos a ele qual seria a vantagem dada à população. Qual seria o interesse público. E aí descobrimos que não se joga limpo no País com relação à questão ferroviária. Não temos um banco de projetos, por exemplo.

Diário – A Ferrofrente poderia mudar essa realidade?
Gonçalves – Estamos tentando ocupar o espaço de interlocução. Alguns empresários do setor se envolveram no Escândalo do Metrô de São Paulo. Outros em outras questões. Por isso, há um receio de se promover o modal. Por isso, defendemos a urgência de um fórum de discussão permanente. Estamos pedindo a realização de uma audiência pública no Congresso Nacional para que a discussão ocorra.

Diário – Mesmo diante da situação política atual?
Gonçalves – Sim, já iniciamos os contatos. É preciso retomar o transporte ferroviário. Podemos recuperar a malha ferroviária e ter trens de boa qualidade, inclusive para transportes de passageiros. Mas é preciso ampla participação de empresários e, principalmente, da população, porque pode-se baratear alimentos, facilitar a locomoção, estreitar distâncias e reprojetar o espaço físico brasileiro. É perfeitamente viável a integração carga-passageiro. Compartilhamento já é temerário. Já existe um grande movimento para a volta dos trens. Precisamos gritar para conscientizar as pessoas. Fazer audiências públicas municipais. O interior cresceu por conta das ferrovias.

Diário – A região da Baixada possui um rede grande, não?
Gonçalves – Sim. Praia Grande por exemplo, possui uma extensa linha férrea. Não vejo vereadores e nem prefeitos pensando neste modal para melhorar a vida das pessoas, dos trabalhadores.

Diário – Você está escrevendo um livro sobre essas questões. Fale sobre ele.
Gonçalves – Sim, meu quarto livro e se chama Ferrovias. É uma análise ampla das causas que resultaram no abandono do modal ferroviário, com artigos e documentos relativos ao transporte sobre trilhos, seja de cargas ou de pessoas. Ele foi lançado no 3º Fórum Nacional de Meio Ambiente e IX Fórum de Direito Ambiental do Pontal do Paranapanema, que aconteceu nos dias 19 e 20 últimos, na Faculdade de Ciências e Tecnologia, na cidade de Presidente Prudente.

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