Muita estrada para a Caravana Tonteria

Bruno Fracchia

Poderia tentar ser poético para falar da Caravana Tonteria e o show ‘De Volta ao Centro’. Mas rompantes líricos são inúteis diante de uma artista que é uma forma poética própria como é o caso de Letícia Sabatella, potencializada pelo impressionante acompanhamento de Paulo Braga ao piano, Zéli Silva no contrabaixo e Fernando Alves Pinto, no canto, na contracena, no trompete, no violão e no serrote. Fernando, múltiplo artista, também ele e sua poética cênica, formando ao lado de Sabatella um casal apaixonante, numa parceria de cena e vida sonhada por qualquer artista.

A precisão vocal de notas claras e nunca perdidas, a graciosidade da dança, o repertório em português, espanhol, inglês, alemão e francês, o respeito ao seu instrumento de trabalho (através da regular hidratação da voz com água ao longo da apresentação) e também ao público - por meio de um repertório na contramão do que o mercado espera e de ensaio de horas até minutos antes da abertura do espaço para o público. Sim, nos palcos não há mais espaço para atrizes e atores não-artistas, limitados a memorização de texto e a crença no talento natural.

Sabatella, atriz de tantas faces, será sempre para mim a Salete de ‘Agosto’ (e da memória do Bruno menino) e a Maria de ‘Hoje é Dia de Maria’.  E a partir de hoje é também a artista completa desta Caravana, presente de abertura do FESTA 57 - Festival Santista de Teatro. Muita estrada a esta trupe. Porque há chão neste país a ser percorrido - e presenteado - por ela.