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O Caminho do Lixo

Catadores são responsáveis por 90% da reciclagem em Guarujá

Mais da metade do que é reciclável tem destinação correta por meio do trabalho desses profissionais

Vanessa Pimentel

Publicado em 13/06/2017 às 08:00

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A Cooperben existe há mais de 10 anos em Guarujá, gera emprego para 16 cooperados / Rodrigo Montaldi/DL

“A hora que nós começarmos a mostrar para a população o quanto reciclar gera empregos e benefícios, a postura da sociedade vai mudar. Não adianta mais ficar só falando, a gente tem que mostrar”. A crença é de Marcelo Silva de Mello, gestor desde 2005 da Cooperativa de Beneficiamento de Materiais Recicláveis e Educação Ambiental (CBMREA/Cooperben), em Guarujá.

À frente do trabalho por lá há mais de 10 anos, Marcelo é uma das figuras mais conhecidas de quem está no ramo. Além de ser um forte representante na luta pela causa, é uma das principais vozes quando o assunto é a importância da profissão do catador de materiais recicláveis. “Se a reciclagem acontece no Brasil, acontece por causa deles. 90% do material que pode ser reutilizado só tem destinação correta porque os catadores, todos os dias, fazem esse trabalho”, afirma ele.

E o raciocínio procede. De acordo com um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que verificou a Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável do país: “São eles os atores-chave em todo o processo, responsáveis por quase 90% de todo o material que chega a ser reciclado no Brasil”.

Cooperben

A cooperativa fica em um galpão no bairro Vila São Miguel e está com o aluguel atrasado há três anos. Com duas esteiras, duas prensas e um moedor de vidro, abriga atualmente 16 cooperados que ganham em torno de R$800 com a venda das 60 toneladas/mês de recicláveis para indústrias.

Rotina

As segundas, quartas e sextas, a Cooperben recebe os resíduos retirados pela coleta seletiva oferecida pela Prefeitura, através da Terracom. As terças, quintas e ­sábados, o material é levado para a outra cooperativa da cidade, a Mundo Novo, em Vicente de Carvalho.

“Nós temos também um caminhão próprio, então saímos à procura de material, ou vamos buscar quando ligam aqui, como alguns supermercados”, explica.

A cooperativa Mundo Novo, atualmente, gera emprego para 12 pessoas, mas sofre com a baixa qualidade do material (Foto: Rodrigo Montaldi/DL)

Novo contrato

Segundo Marcelo, a Coperben está perto de fechar um contrato com a prefeitura onde, ao invés da Terracom, a cooperativa será a responsável por realizar a coleta seletiva na cidade.

“Toda vez que as cooperativas propõem essa alternativa ao poder público, a resposta é sempre a mesma: não têm pessoas qualificadas no ramo para lidar com as questões burocráticas, não conseguimos fazer a gestão, não temos estrutura suficiente. Obviamente isso acontece porque os políticos não tem noção do trabalho realizado pelas cooperativas. Lutamos há muito tempo para formalizar as atividades, mas só agora com os prazos da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos estourando é que as prefeituras estão começando a nos procurar para conversar”, explica Marcelo.

Ele diz que o contrato com a prefeitura traz autonomia para a cooperativa e cria possibilidades de crescimento, como por exemplo, a opção de financiar a compra de mais um caminhão, articular cursos de capacitação dos catadores, investir em educação ambiental e em melhorias na estrutura física do galpão.

Cooperativa Mundo Novo está sem iluminação há anos

Elizeu Florentino da Silva é o presidente da outra cooperativa do Guarujá, desde 1999. Foi um dos fundadores.

Atualmente com 12 cooperados, a Mundo Novo trabalha de segunda a sábado, das 8 às 17h, no inverno menos, “porque como escurece mais cedo, a gente é obrigado a fechar”. Sentado em uma pequena sala, com bastante material ao redor, Elizeu explica sobre o serviço que realiza.

“Olha, da prefeitura a gente tem a cessão desse galpão e o envio do que é recolhido na coleta seletiva três vezes por semana. Só. Alimentação é por nossa conta. Como o Bom Prato é aqui perto, a gente come lá”, explica Elizeu.

De acordo com ele, o maior problema é a qualidade do material que chega. “Todo dia, pelo menos três caçambas são só de rejeito. Isso atrapalha o faturamento”, justifica.

“Não precisamos de favores da prefeitura, precisamos é de autonomia para fazer a coleta porque daí vamos trazer para a cooperativa somente aquilo que é reciclável. As coisas chegam aqui de qualquer jeito e isso acontece por vários motivos, um deles é a falta de hábito das pessoas com a reciclagem”, declara.

Como cerca de 60% do material enviado para lá não é reciclável, e sim rejeito, a Mundo Novo consegue aproveitar apenas 25 toneladas de material por mês que após a venda, não paga mais que um salário mínimo aos 12 cooperados. “É difícil. Por isso que a gente tá no escuro há tantos anos”, conclui. 

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