Temer prometeu interferir na área econômica em favor da JBS, diz delator

No depoimento, gravado em vídeo, Batista contou aos investigadores sobre como foi a primeira conversa com Temer gravada às escondidas

20 MAI 2017 • POR • 00h30
Por meio de Rodrigo Rocha Loures, assessor de Temer, Joesley combinou de se reunir com o peemedebista no Palácio do Jaburu - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, disse que o presidente Michel Temer prometeu interferir na área econômica em favor da companhia. A informação foi relatada por Batista em depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República) em acordo de delação premiada na Operação Lava Jato.

"Comentei sobre o programa do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que tinha vetado operações nossas. Eu tive informações de que ele intercedeu pessoalmente a favor, tentando nos ajudar. E depois ele me confirmou pessoalmente: 'Olha, falei pessoalmente com a presidenta do BNDES [Maria Silvia Marques]'", disse Batista.

"Ele me disse que esteve no Rio de Janeiro, mas não deu certo, o BNDES vetou", afirmou.

No depoimento, gravado em vídeo, Batista contou aos investigadores sobre como foi a primeira conversa com Temer gravada às escondidas.

Por meio de Rodrigo Rocha Loures, assessor de Temer, Joesley combinou de se reunir com o peemedebista no Palácio do Jaburu.

Era noite de terça-feira. O delator dirigiu à casa de Temer e deu outro nome na portaria: Rodrigo. Parou na garagem e Temer lhe encontrou "no porão" para conversar, relatou Batista.

Ele disse que o objetivo do encontro era discutir vários assuntos, entre os quais questões de interesse da empresa na área econômica.

Batista queria discutir, por exemplo, a nomeação do presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica e Social), cujo comando está com o interino Gilvandro Araújo.
O empresário afirmou que há "vários assuntos do Cade que a gente submete à apreciação" e, portanto, a escolha do novo líder é importante.

"Ele [Temer] disse que tinha uma pessoa com quem podia ter uma 'conversa franca'. "Eu entendi 'conversa franca' como alguém para obedecer os interesses do presidente", disse Batista.

A conversa também tratou sobre outros órgãos da economia: CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Receita Federal e também sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Sobre a CVM, Joesley disse que foi "falar que seria importante ter pessoa alinhada com os interesses dele, do governo".

"Perguntei a ele sobre Receita Federal, sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Mas o Henrique nunca me atendeu em nenhuma reivindicação. E eu fui perguntar como fazer para o ministro saber que são assuntos de interesse do presidente. Ele falou: pode falar com o Henrique e você me avisa o assunto", contou o delator.