Profissionais debatem relações humanas e suicídio em Santos

Encontro abordou o Desafio da Baleia Azul e a influência das redes sociais em crianças e adolescentes

6 MAI 2017 • POR • 10h00
O encontro foi promovido pelas comissões de Direitos Humanos e de Saúde e dos colegiados de Educação e de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Rodrigo Montaldi/DL

Tabu por muitos anos na mídia, o suicídio esteve em pauta nas últimas semanas com os desdobramentos do Desafio da Baleia Azul. A vontade – por vezes levadas a cabo – de atentar contra a própria vida e as implicações do ato, bem como a necessidade de zelar pela saúde mental foram temas tratados em audiência pública na Sala Zeny de Sá Goulart da Câmara Municipal de Santos na tarde de ontem.

O encontro foi promovido pelas comissões de Direitos Humanos e de Saúde, das quais a vereadora Telma de Souza é presidente, e dos colegiados de Educação e de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Casa, presididos respectivamente pelos parlamentares Audrey Kleys e Fabiano Batista Reis.

Presidente da mesa, Telma destacou que nos últimos 120 dias mais de 100 pessoas tiraram a própria vida em Santos. De acordo com a perita criminal Cássia Zottis o número é superior, visto que a maior parte das tentativas de suicídio fica nos hospitais e muitos outros são ignorados, como no caso de morte induzida por consumo de medicamentos.

“Os profissionais de saúde e da educação não são capacitados e não se sentem seguros para falar sobre pessoas que tiram a própria vida. Uma dor está sendo reprimida e precisa ser levada em conta”, conta a perita.

De acordo com o ex-coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, jogos com a Baleia Azul são, na verdade experimentações de potência dos jovens.
“Eles vivem em uma sociedade que está dividida entre aqueles que são potentes e aqueles que não são capazes. Essa ideia passa dos mais velhos e nós herdamos e transmitimos para nossos filhos essa expectativa. É preciso atentar para o mundo que nos cerca”, afirma.

A ideia é compartilhada pela psicóloga Isabel Calil Stamato. Na visão dela, a propensão ao suicídio é um sintoma da sociedade.

“Algo no mundo interior desses jovens precisa de ajuda. Temos relações desumanizadas em nossas casas e temos que questionar qual o papel das redes sociais nessa subjetividade humana. Vemos muitas meninas nos equipamentos de atenção psicossocial de Santos que dizem que se automutilam para aliviar a angústia que sentem. Temos que questionar o quanto infeliz é essa realidade que estamos apresentando para os nossos jovens”, pondera.

Como saldo positivo de todo o debate sobre suicídio, Renato Jesus, coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), ressaltou que em um mês cresceu em 445% a procura de apoio pelo e-mail da instituição.

Número de casos em Santos

Considerada com a melhor cidade para a 3ª idade, Santos também registra o dobro da média de suicídios de idosos. Os dados foram coletados entre 2000 e 2010 pelo médico, professor universitário e ex-coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori.

Os outros dados também fogem do padrão das estatísticas. A filosofa Mariza Galvão aponta quem entre 2010 e 2015, dos 160 casos de suicídio registrados em Santos, 126 foram de pessoas do sexo masculino.

No âmbito nacional, o suicídio é a segunda maior causa de mortes de jovens entre 19 a 25 anos em todo mundo.