Atos simbólicos relembram 53 anos do navio-prisão Raul Soares

Era uma vez um navio-prisão enviado ao porto de Santos em abril de 1964

25 ABR 2017 • POR • 10h30
Sindicalistas fazem ato no Porto e apontam para local onde navio ficou atracado - Rodrigo Montaldi/DL

Sindicalistas relembraram ontem, com dois atos simbólicos, os 53 anos da chegada do navio-prisão Raul Soares ao Porto de Santos. A data começou a ser relembrada logo cedo, quando o Sintraport, através de sua Associação de Aposentados (Aposintra), homenageou os portuários presos naquele cárcere flutuante, reunindo associados e familiares dos presos em um café da manhã alusivo ao evento.

Durante os discursos, não faltaram também críticas ao momento atual do País e convocação para a greve geral, marcada para a próxima sexta-feira pelas centrais sindicais, contra as reformas trabalhista e previdenciária.

Além de relembrar os 53 anos do navio, a Aposintra, entidade que reúne cerca de 1 mil aposentados portuários, comemorou também seu seis anos de existência.

“Essa é uma data que deve ser sempre lembrada, pois faz parte da nossa história sindical onde companheiros deixaram suas vidas e perderam suas saúdes dentro dos calabouços do navio Raul Soares”, disse bastante emocionado Luiz Augusto de Almeida, presidente  da Aposintra.

Já o presidente do Sintraport, Claudiomiro Machado, Miro, disse que não era nascido quando o navio atracou em Santos para prender e torturar sindicalistas, mas que, através de relato de antigos associados, tomou conhecimento dos fatos.

"Companheiros foram presos por lutar por seus direitos e mesmo diante de torturas não perderam sua fé e seus ideais de luta e liberdade e deixaram esse legado para todos nós”, justificou.

Homenageados

Foram homenageados os associados presos Ademar dos Santos e Argeu Anacleto, e também o médico Thomas Maack, que se exilou em Nova Iorque e não pode comparecer, mais enviou uma mensagem aos portuários.

Atos simbólicos

Após a reunião, sindicalistas e convidados foram ao pontilhão de acesso à Estação das Barcas, na travessia para Vicente de Carvalho, de onde se vê a Ilha barnabé,  local onde o navio ficou atracado, e lá realizaram um ato simbólico de reflexão, para relembrar a data.  

Também no final da tarde, outro evento, “Raul Soares Nunca Mais”. ocorreu no mesmo local sendo promovido pelo Comitê Popular de Santos, Memória, Verdade e Justiça.

De Nova Iorque, médico Thomas Maack envia mensagem  de saudação aos portuários e familiares

Essa é a mensagem enviada aos portuários de Santos e sindicalistas da região pelo médico Thomas Maack, preso do navio Raul Soares e que se exilou em Nova Iorque, Estados Unidos, onde fez uma brilhante carreira profissional.

“Eu saúdo todos os prisioneiros do navio prisão 'Raul Soares' e suas famílias  na ocasião dessa comemoração de triste memória  de uma das maiores infâmias cometidas pela ditadura de 1964.

Eu agradeço profundamente a homenagem que a mim é prestada e sinto-me honrado de partilhá-la  com os meus companheiros de prisão, Ademarzinho e Argeu, duas figuras de proa dos portuários de Santos que tanto contribuíram para a unidade, coragem e moral dos prisioneiros do navio em 1964.  

A lembrança do evento é de importância fundamental na nossa luta comum de defesa da democracia, da justiça social e econômica, dos direitos trabalhistas  e dos direitos humanos principalmente nessa fase difícil que o pais atravessa.

Infelizmente, por razões de família, não pude viajar para o Brasil para estar presente  mas estarei em pensamento  com vocês todo esse dia.”. Ele conclui agradecendo a homenagem: 'Essa homenagem eu guardarei no meu coração para sempre'”, conclui.