Doria recua e desiste de usar dinheiro de privatização para pagar dívida

A meta inicial do prefeiro era usar os recursos obtidos com as desestatizações em investimentos nas áreas sociais e em grandes obras

20 ABR 2017 • POR • 14h00
Doria quer privatizar ou conceder 55 equipamentos, entre eles o Anhembi, o Pacaembu e o Autódromo de Interlagos - Agência Brasil

O prefeito João Doria (PSDB) recuou e determinou a retirada de um dos artigos do projeto que cria o Conselho Municipal de Desestatização e Parcerias e o Fundo Municipal de Desenvolvimento.

A decisão acontece depois de a Folha de S.Paulo publicar nesta quinta (20) que o conselho usaria o dinheiro obtido com privatizações e parcerias público-privadas para pagar despesas e até dívidas.

"O prefeito acaba de determinar a retirada do parágrafo único, artigo 6, do projeto que cria o Conselho Municipal de Desestatização e Parcerias e o Fundo Municipal de Desenvolvimento", disse, em nota, a prefeitura.

O texto que cria o conselho diz em seu segundo capítulo que os recursos do Fundo Municipal de Desenvolvimento -que reunirá a receita obtida com as privatizações- seriam destinados pelo conselho às áreas de saúde, educação, segurança, habitação, transporte e mobilidade urbana.

Porém, o parágrafo único diz que os valores também poderão ser destinados para "despesas ou "cumprimento de deveres legais". Isso, no entanto, só poderia ocorrer mediante recomendação do próprio conselho, que será formado por um grupo de seis secretários (Governo, Gestão, Fazenda, Relações Internacionais, Justiça e Desestatização e Parcerias).

O conselho seria responsável por decidir quais bens, serviços ou participações societárias da cidade serão desestatizadas, assim como aprovar projetos de alienação, concessão ou permissão. No dia em que levaram o texto à Câmara, o secretário de Desestatização, Wilson Poit, e o prefeito em exercício Bruno Covas ressaltaram que a prioridade do fundo era o social.

"Uma coisa bonita desse plano é que todos os recursos que vierem das empresas municipais, ativos e imóveis serão todos conduzidos a essa conta cuja prioridade é investimento em educação, saúde, habitação, segurança e mobilidade", disse Poit. O projeto causou reação negativa da própria base de apoio.

Líder do prefeito na Câmara, Aurélio Nomura (PSDB), disse acreditar que o texto trata apenas de despesas e gastos judiciais referentes aos processos de privatização e não de maneira geral. "Vamos pedir ao governo que deixe o texto mais claro", disse.

Privatização

A meta inicial de Doria era usar os recursos obtidos com as desestatizações em investimentos nas áreas sociais, grandes obras e não em custeio da máquina administrativa (por exemplo, pagamento de gastos com pessoal e subsídios para o transporte público).

Doria quer privatizar ou conceder 55 equipamentos, entre eles o Anhembi, o Pacaembu e o Autódromo de Interlagos. A expectativa é arrecadar R$ 7 bilhões no decorrer do mandato. A mudança está descrita num projeto enviado pelo prefeito em exercício, Bruno Covas (PSDB), no último dia 13.

Ela ocorre no momento em que a gestão Doria cortou investimentos em obras sob o argumento de que há um deficit de R$ 7,5 bilhões no Orçamento em relação à receita prevista pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Não há previsão para que ele entre em votação ainda.