Centro de treinamento em Santos ajuda mulheres com medo de dirigir

Gerente da unidade afirma que um dos principais motivos é a falta de incentivo dos próprios maridos

10 ABR 2017 • POR • 11h30
A gerente Vick Ellen explica que a falta de apoio dos familiares aumenta a sensação de insegurança e as mulheres, mesmo que habilitadas, adiam a decisão de dirigir - Rodrigo Montaldi/DL

Uma casa pintada de rosa Pink localizada na Rua Marques de São Vicente, em Santos, chama a atenção de quem passa por ali. No local, funciona um centro de treinamento para mulheres que fogem do volante, seja por medo, falta de prática, “ou falta de incentivo”, completa a gerente Vicky Ellen. “As mulheres que nos procuram já são habilitadas, mas não dirigem e um dos maiores motivos para que isso aconteça é a falta de apoio dos próprios maridos”, diz.  

Para comprovar o argumento, ela conta o caso de uma cliente que procurou o “Mulheres Habilitadas” contra a vontade do parceiro. Segundo Vick, ele era ciumento não só com a esposa, mas com o carro do casal também. Mesmo assim, ela enfrentou a cara feia do cônjuge e voltou a ter aulas de direção. Depois de algum tempo de treino, decidiu dar uma volta com o próprio automóvel. “Ele disse que tudo bem, mas quando ela foi sair da garagem percebeu que o marido tinha furado os quatro pneus”, declara a gerente. 

Esse tipo de atitude, de acordo com o método adotado pelo centro, altera o estado psicológico das mulheres e atrasa a evolução do processo de aprendizado porque mexe também com a autoestima, aumentando a insegurança. Porém, Vick conta que a cliente se impôs e hoje é ela quem assume a direção. 

“É aquela frase né: tinha que ser mulher. É cultural no Brasil. O homem é incentivado à aventura e a mulher a ter cuidado. Só que as coisas estão mudando e cada vez mais elas procuram a independência em todos os sentidos”, afirma.  

Crise de pânico

Elenita Maria dos Passos tem 56 anos e é habilitada há oito. Com carro na garagem, não sabe dizer quantas vezes chegou a sair com ele de casa, mas garante que foram poucas e terríveis experiências. 

“Tive crise de pânico e ansiedade e é aí que mora o perigo porque o medo e a preocupação exagerada é o que faz a gente cometer erros. Dirigir deixa de ser prazeroso e vira um tormento, então parei”, justifica Elenita. Questionada sobre o que a fez voltar para o volante, diz que cansou de depender das pessoas e de esperar por ônibus. 

Ela afirma que já sente o resultado das aulas que vem fazendo e está feliz por aprender mais até sobre a mecânica do carro. “A primeira coisa que pretendo fazer quando terminar o curso é pegar a estrada”, declara. 

Método

O centro de treinamento e desenvolvimento é voltado somente para mulheres que possuem carteira de habilitação, mas não se sentem seguras para dirigir. Com dez unidades espalhadas pelo Brasil, a proposta nasceu quando, segundo Vick, os proprietários perceberam que quase 80% das pessoas que procuravam por aulas além das oferecidas em autoescola eram mulheres. 

O método inclui psicóloga e aulas práticas com professores instruídos para verificar quais as maiores dificuldades apresentadas. Após a análise, é criado um plano de aula específico para cada caso. “Tem clientes que não tem controle de pedal, outras tem problemas na baliza ou manobras de ré”, conta ela. “Não tem mais desculpa para usar a habilitação somente como RG”, brinca uma das atendentes.