O começo do fim?

Faz tempo apontamos aqui os caminhos duvidosos pelos quais enveredaram as maiores editoras de quadrinhos norte-americanas de super-heróis, principalmente a Marvel Comics

9 ABR 2017 • POR • 18h29

Na ânsia de conquistar novos leitores, não se acanham, por exemplo, em descaracterizar personagens clássicos com décadas de existência ou aumentar a participação de representantes de minorias entre seus personagens. Sem falar na mania irritante de querer aproximar as versões cinematográficas das HQs, coisa que quase nunca funciona para leitores mais antigos.

Pois bem, o resultado é a queda nas vendas dos títulos da Marvel, em comparação com sua principal rival, a DC Comics. Em reunião “meio secreta” no começo deste mês em Nova Iorque, coberta quase que exclusivamente pelo site especializado em cultura geek e tecnologia ICV2, revendedores das revistas da Marvel nos EUA exigiram do editor-chefe da editora, Axel Alonso, mudanças para que os títulos voltem a vender.

Segundo eles, o fato de a Marvel apostar em grandes sagas interligadas (foram seis nos últimos seis meses, ou seja, uma por mês lá nos EUA), zerando cronologias e muitas vezes desprezando fatos já consumados, acaba irritando os leitores. Outro fator é a descaracterização de personagens como Thor (que “virou mulher”) e Homem de Ferro (que virou “adolescente, negra e mulher”...), por exemplo, para contentar minorias que nem se preocupam tanto assim com HQs deste tipo.

Não apostar em edições especiais ou séries limitadas com preços diferenciados, também, segundo os lojistas, ajudou a afastar os leitores. Só para se ter uma ideia, no mês de fevereiro a Marvel praticamente não aparecia entre os 15 títulos mais solicitados pelos lojistas para venda. Toda a lista era dominada pela DC (11 títulos) ou por editoras como Image (com The walking dead). A Marvel aparecia só quatro vezes, três delas com títulos de Star Wars, ou seja, apenas UM título da Marvel, na realidade, era solicitado (Amazing Spider-man, 24).

Claro que esta situação pode ter sido precipitada pelo sucesso da iniciativa Rebirth da DC Comics, que aposta claramente nas origens clássicas de heróis quase centenários como Superman e Batman, mas também mostra que os leitores de quadrinhos de super-heróis são mais resistentes a mudanças, tradicionalistas e pouco interessados em mensagens políticas, implícitas ou explícitas. Talvez, seja a hora de a campeoníssima Marvel aprender com a DC como voltar a satisfazer seus fiéis leitores...