Fixada no litoral, febre amarela volta no tempo e traz novo desafio ao país

Desde janeiro, já são 292 confirmações da doença, segundo o Ministério da Saúde, no maior surto desde a década de 1980

22 FEV 2017 • POR • 10h50
A febre amarela traz um novo desafio ao país - Divulgação

Causa de notáveis surtos no litoral brasileiro até o início do século 20, a febre amarela está prestes a dar uma volta no tempo, com consequências imprevisíveis.

Após entrar no Brasil pela costa, no século 17, o vírus foi gradualmente "empurrado" para o Norte e o Centro Oeste a partir da década de 1960. Casos em outras regiões até eram registrados, mas apenas pontualmente.

Nas duas últimas décadas, porém, esse quadro começou a mudar, com uma expansão em direção ao litoral. Com o atual surto, e a aparição de casos no Espírito Santo, o vírus se instala na mata atlântica em área com grande parcela da população não imunizada.

Desde janeiro, já são 292 confirmações da doença, segundo o Ministério da Saúde, no maior surto desde a década de 1980. São 249 casos em MG, 39 no ES e 4 em SP. Há também casos em investigação na BA, no RN e no TO.

Expansão

O avanço territorial pode ser verificado nos mapas de áreas de risco e de vacinação produzidos pelo Ministério da Saúde com base na aparição de novos casos no país.

Em 1997, o mapa de risco incluía basicamente Estados do Norte e Centro-Oeste e o Maranhão. Nos anos seguintes, os limites foram gradualmente ampliados para incluir Minas, o oeste da Bahia e o norte de São Paulo. Em parte dessas áreas, surgiram casos onde a doença não se manifestava havia quatro décadas.

Agora, com infecções confirmadas no Espírito Santo, o mapa de recomendação de vacina foi ampliado novamente. Além das cidades capixabas, passou a incluir o norte do Rio e o sul da Bahia, com o objetivo de bloquear o avanço da doença.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Maurício Nogueira, é possível minimizar, e muito, os danos, mas impedir a expansão da febre amarela será difícil. "O vírus com certeza vai dominar toda a mata atlântica", diz.

Ele lembra que não há dificuldade de adaptação, uma vez que a doença, até a primeira metade do século 20, causou diversos surtos em cidades como Rio e Recife.

Para ele, após controlado o surto atual, o país terá de discutir a eventual inclusão do Rio na área de vacinação –hoje, só cidades do norte do Estado estão incluídas. A produção de vacinas, no entanto, teria que ser multiplicada.

Presidente do Instituto Evandro Chagas, Pedro Vasconcelos avalia que o resultado da vacinação no Espírito Santo é crucial para bloquear o caminho do vírus até o Rio, e que ainda dá tempo.

"O vírus se adaptou aos macacos e outros vetores e, por isso, a transmissão silvestre não é erradicável", diz. "Mas, com vacinação, temos condições de conter a chegada à costa", afirma.