Tiras macanudas!

Com personagens aparentemente desconexos como uma azeitona, um pão sueco ou uma vaca cinéfila, Liniers tem o raro dom de causar fortes emoções com a simplicidade de um traço.

8 JAN 2017 • POR • 17h00
Divulgação

Não sei se existe uma “idade da razão” das tirinhas cômicas ou o ápice desta arte que é, ainda, tão contemporânea e, ao mesmo tempo, tão primitiva quanto os desenhos de Lascaux (complexo de cavernas na França, famoso por seus desenhos rupestres), mas, com certeza, o trabalho do argentino Ricardo Liniers faz parte desse ápice ou desse momento.
Formado em Publicidade e Propaganda, Liniers usa sua criatividade quase sem limites para criar um universo só dele; ao ponto de se retratar nos seus próprios desenhos, mesmo que seja em forma de coelho.
Reunindo suas tiras ora cômicas, ora líricas e até filosóficas sob o genérico nome de “Macanudo”, Liniers tem um talento espantoso para renovar uma espécie de expressão que os próprios jornais impressos parecem empenhados em exterminar: a tira cômica clássica em três ou quatro quadrinhos.
Só não se pode esperar dele a compleição também clássica, com a “piada” se resolvendo no último momento. Com Liniers, às vezes, não há piada. Ou o riso é amargo ou existe até a possibilidade de choro...  Nada pode ser previsto nesse mundo louco de pinguins e duendes, um misterioso homem de capa preta e até um robô sensível.
A construção da tirinha em “Macanudo” é também, como sugere a palavra argentina, extraordinária, fantástica e, se não tudo isso, no mínimo “bacana”. Um traço elegantemente econômico aliado a uma paleta de cores suaves, deixa em tudo um ar que pressupõe a finesse da inteligência em textos e abordagens igualmente inspiradas.
Ler as tirinhas de Liniers é conseguir entrar num mundo que deixa imediata saudade ao fim da leitura. Isso é um talento que só grandes mentes criativas conseguem realizar, além de colocar em xeque várias de nossas certezas sobre o que realmente é uma história em quadrinhos.
A única certeza é a de que você nunca viu e, arrisco dizer, nunca verá um trabalho tão particular e tão bem arquitetado quanto o de Liniers. Sem dúvida, uma das coisas mais criativas e emocionantes que apareceram nos quadrinhos mundiais nos anos 2000.  Por aqui, o trabalho de Liniers pode ser conferido em oito números de “Macanudo”; um livro que reúne seu trabalho publicado na imprensa argentina intitulado “Bonjour” e um livro de desenhar e colorir chamado de “Garatujas”, todos editados pela Zarabatana Books.