A descoberta do mundo da leitura através da palavra viva

LÊ NO NINHO. Biblioteca Porto Saber, em Praia Grande, recebe programa que incentiva a leitura para crianças e bebês

18 DEZ 2016 • POR • 09h30
A ideia é demonstrar aos pais ou cuidadores como eles podem replicar em casa as atividades realizadas na biblioteca, enquanto estão em contato com as crianças - Rodrigo Montaldi/DL

Na pequena sala forrada de placas de tatames e pufes coloridos da biblioteca Porto Saber, em Praia Grande, a palavra deixa de estar apenas impressa no papel para ganhar vida. Ela passa da tela da televisão para a dobradura de papel. Da fantasia dos livros infantis para encarnar nos pais presentes na sala e através deles adentrarem nas mentes e corações dos pequenos de 6 meses a 4 anos.

Desenvolver a paixão pela leitura em bebês e crianças. Esse é o objetivo central do projeto ‘Lê no Ninho’, releitura do ‘Bebelê’. A ação é fundamentada na teoria do Letramento Infantil (Early Literacy), definida pelo National Institute of Child Health and Human Development (NICHD), e que ressalta a importância de se incentivar o ato de ler, a interação com histórias e livros para bebês e crianças, bem como a consequência positiva no desenvolvimento infantil. A iniciativa foi implantada na Biblioteca de São Paulo, em 2012, enquanto a Biblioteca Parque Villa-Lobos oferece o projeto desde sua inauguração, em 2014.

A cidade de Praia Grande é a terceira a receber o projeto, que contemplou no último edital outras nove bibliotecas municipais do Estado. As instituições foram selecionadas por meio de edital lançado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condeca-SP) em parceria com a Organização Social de Cultura SP Leituras e o Instituto Tellus. Este concurso também contou com o apoio do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo (SisEB) e da Secretaria da Cultura do Estado.

No lançamento em Praia Grande, a magia esteve impregnada nos olhares das crianças presentes. Folhas de sulfite foram transformadas na casa da cantiga que remete à infância e, contrariando o sendo comum, a tecnologia da TV e dos Tablets foram instrumentos para resgatar o lúdico da infância.

“O programa já existe e tem êxito em São Paulo e agora foi expandido para outras cidades do Estado. Toda a estruturação foi feita no diálogo com representantes das bibliotecas contempladas. O nome ‘Lê no Ninho’ também foi criado na analogia de que o hábito da leitura deve começar em casa e ser trabalhado de forma sutil com as crianças. E também as bibliotecas devem criar espaços para o desenvolvimento e estímulo da leitura”, afirma Gabriella Matarazzo, gerente de projetos do Instituto Tellus.

Cada ação do programa tem duração de até 45 minutos e trabalha uma ou mais capacidades cognitivas das crianças. São utilizados livros-brinquedos, fantoches, tambores, chocalhos, brinquedos e músicas para interagir com os bebês e as crianças a fim de estimular o gosto pela leitura. A ideia é demonstrar aos pais ou cuidadores como eles podem replicar em casa as atividades realizadas na biblioteca.

A ideia foi recebida com entusiasmo pelos pequenos. “Notamos pelos olhinhos curiosos e pela interação com o que foi apresentado que eles prestaram atenção ao que foi dito e como ganharam de presente um livrinho para levar para casa, certamente levarão a paixão pela leitura adiante, na companhia dos pais”, afirma Tatiana Félix, contadora de histórias ao lado de Aline Félix, auxiliar de biblioteca.

Para a implantação do programa nos municípios contemplados, as bibliotecas receberam a doação de um kit completo composto por acervos de livros-brinquedo, materiais pedagógicos, tablets, TV, móveis e demais recursos a serem empregados no programa. As ações em Praia Grande serão semanais e retornarão em fevereiro, após o período de recesso.

A fantástica biblioteca da pequena Lara

Os olhos sonhadores e brilhantes da pequena Lara acompanharam com entusiasmo cada leitura e apresentação desenvolvida pelas instrutoras do Lê no Ninho.

Assim que soube que Lara viria ao mundo, a estudante de pedagogia Andreia Soares teve o sonho de ver a filha apaixonada, assim com a mãe, pela palavra escrita e pelas viagens proporcionadas pela leitura.

E foi incentivando desde a gestação e a partir do terceiro mês de vida da criança – data em que ela ganhou o primeiro livro – que Andreia viu o sonho se concretizar: hoje a menina é dona de uma biblioteca composta por mais de 80 livros. E engana-se quem pensa que ela está satisfeita com o número de histórias que já viveu através dos contos.

“Em todos os aniversários e datas comemorativas ela faz questão de pedir livros. Uma vez ela ganhou um livro chamado ‘Histórias para meninas de 3 anos’. No quarto aniversário ela veio com o livro em mãos e falou: ‘mamãe, agora eu preciso de um com histórias para minha nova idade’”, aponta Andreia.