Classe artística debate destino da Cadeia Velha de Santos

Encontro aconteceu no mesmo dia em que Estado anunciou mudanças na gestão da OC Pagu

7 DEZ 2016 • POR • 10h00
Encontro reuniu representantes de vários segmentos culturais - Rodrigo Montaldi/DL

Um coletivo de artistas das mais diversas vertentes culturais se reuniu no início da noite de ontem na Cadeia Velha de Santos para debater medidas contra a iminência de fechamento do imóvel.

A possibilidade existe em virtude do encerramento do contrato de gestão da Organização Sociail Poiesis, que administra atualmente a Oficina Cultural Pagu no equipamento. Com a saída da OS, o receio da classe artística é que o espaço fique ocioso ou seja cedido para a Administração Municipal.

Na visão do escritor Flávio Viegas Amoreira, o fechamento da Cadeia, além de impactar no fazer artístico causará outros problemas para o entorno. “É fazer o caminho inverso. Fechar as portas significa recuar na questão da revitalização do centro e aumentar a sensação de insegura em uma região que foi impactada positivamente com a reabertura do espaço”, afirma.

O pensamento é compartilhado pelo produtor cultural Rodrigo Savazoni. Ele defende que a saída da Oficina Pagu não pode, em esfera alguma, significar o fechamento do imóvel, uma vez que sua vocação de centro cultural já havia sido definida em audiência pública antes da sinalização de que as Oficinas Culturais voltariam para o espaço.

“Precisamos separar as coisas, pois o que estamos debatendo aqui é que a primeira solução de uso encontrada pelo governo foi rompida. A grande questão não é o fechamento das Oficinas Culturais Pagu ou a mudança da sede das oficinas e sim o que será feito nesse espaço que por si só sempre respirou arte e cultura”, afirma.

Estado

O Secretário da Cultura do Estado de São Paulo, Roberto Sadek esteve na manhã de ontem com os com os secretários de Cultura das cidades sedes das Oficinas Culturais Pagu para alinhar o novo formato do programa. A proposta é que o mesmo seja gerido diretamente pelas prefeituras em 2017, com recursos provenientes do Governo do Estado e transferidos aos municípios por meio de convênios assinados junto à Secretaria da Cultura.

“A Secretaria da Cultura do Estado irá enviar os recursos destinados ao programa diretamente para cada cidade. Esse repasse deverá ser aplicado de acordo com as necessidades do município, sempre no âmbito da formação cultural, que faz parte do DNA do programa Oficinas Culturais. Nossa sugestão é que as atividades preferencialmente proporcionem capacitação para o mercado de trabalho do setor cultural”, explicou Sadek, que ouviu sugestões dos secretários presentes e garantiu que as levará em consideração na implantação dos convênios.

A ideia, nesse formato, é que os municípios tenham autonomia para definir as atividades que melhor atendem as especificidades locais. O secretário de Cultura de Santos, professor Fabião, participou do encontro e, após estudar a proposta, dará continuidade às tratativas dos convênios. Posteriormente, o Secretário José Roberto Sadek deve se reunir com os novos dirigentes de cultura dos municípios para discutir os detalhes de cada parceria.

Para a diretora teatral Miriam Vieira, a questão vai além. “Precisamos conversar sobre a metropolização da arte e sobre o papel do Estado nesse processo. Lutamos pela manutenção do prédio por uma questão histórica, mas a minha angústia não é somente essa. O Estado não pode delegar a função para um município. E toda a articulação regional? E a circulação que acontece hoje aqui, como fica?”, desabafa.