Polícia esclarece atentado a tiro contra chefe de gabinete
Um vigilante e um policial militar foram presos; acusado de ser o mandante é um empresário
28 AGO 2016 • POR • 10h00A tentativa de assassinato a tiro de Humberto de Araújo Santiago, de 39 anos, chefe do gabinete do vice-prefeito de São Vicente, João da Silva (Pros), no último dia 11, foi encomendada
mediante pagamento, conforme aponta investigação da Polícia Civil.
A falha na execução do crime foi fundamental para que a própria vítima, ao sobreviver, reunisse indícios de autoria sobre o atirador e os levasse aos policiais da Delegacia
de Investigações Gerais (DIG) de Santos para o esclarecimento do caso.
O empresário Wassin Abdouni, que foi sócio-proprietário da casa noturna Juá (atualmente fechado), em São Vicente, é apontado pela polícia como mentor intelectual do crime.
Já a execução do delito, ainda segundo a investigação, foi cometida pelo vigilante Anderson Martinez de Lima, suspeito de atirar, e pelo policial militar Marcelo Granado
Borg, suspeito de pilotar a Honda Broz usada no atentado. Martinez e Borg estão presos temporariamente. Abdouni está foragido.
Desentendimentos sobre autorizações para o funcionamento do estabelecimento comercial entre Abdouni e o chefe de gabinete teriam sido o estopim para a encomenda do crime, segundo a investigação.
Santiago foi atingido na mão esquerda por um tiro de pistola de calibre .40 quando chegava de carro no prédio onde reside, na Rua Jacob Emmerich, no Centro. Ele havia acabado de sair da Prefeitura e foi surpreendido pelo atirador, que saiu de trás de um poste.
O homicídio só não foi consumado porque ocorreu uma pane na pistola após o primeiro tiro,conforme apurou a Polícia Civil.
Fisionomia
O atirador estava com capacete aberto,o que permitiu à vítima identificar sua fisionomia. Um dia após o crime, Santiago declarou a policiais da Delegacia de Investigações
Gerais (DIG) de Santos que suspeitava que a pessoa que o feriu era Martinez, um suposto policial militar.
A equipe do delegado Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, titular da DIG, e do investigador Paulo Carvalhal realizou diligências e apurou que Martinez não é PM, mas tem amizades
com integrantes da corporação.
Após descobrirem o endereço do vigilante, os investigadores foram ao imóvel, na Rua Silvio Ferreira Mendes, na Vila São Jorge, em São Vicente, e surpreenderam, após uma campana, Martinez
saindo com uma pistola de calibre 380 na cintura no último dia 17. Na casa os policiais apreenderam uma calça e um sapatênis idênticos aos que aparecem com o suspeito na
cena do crime, conforme comparação com as imagens de monitoramento do prédio.
confissão
Ao ser interrogado no dia em que foi preso, Martinez chegou a admitir o crime e deu detalhes aos policiais da DIG sobre o mandante e o PM. A confissão foi gravada em vídeo. Ele
afirmou que aceitou a proposta de R$ 30 mil para matar Santiago. Disse que recebeu R$ 8 mil adiantados e convidou o policial para acompanhá-lo na investida criminosa.
O vigilante também relatou que se encontrou com Abdouni no dia seguinte ao crime em um restaurante na Praça Mauá, em Santos, onde teria sido criticado por sua ação. Segundo
Martinez, o empresário disse que ele “não sabia fazer o negócio direito e não tinha que se meter nisso, pois só tinha acertado a mão de Santiago”.
Na presença de seu advogado, o vigilante quis ser interrogado novamente. Ele passou a negar envolvimento no crime e disse que sofreu tortura psicológica, o que a polícia nega.
celular.
Em análise no conteúdo do celular do vigilante os investigadores encontraram diálogos dele com o PM Granado sobre a tentativa de homicídio, por meio de mensagens.
Granado foi preso no último dia 23, em seu apartamento no Macuco, em Santos. Ele foi recolhido ao presídio Romão Gomes, na zona norte de São Paulo. Martinez cumpre a prisão temporária no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente.
Outro lado
O advogado Armando Mattos Júnior, que defende o empresário Abdouni, diz que neste momento não vai se pronunciar sobre os procedimentos da defesa devido ao sigilo do processo.
Defensor do PM Granado, Alex Sandro Ochsendorf diz que seu cliente nega veementemente a autoria ou participação. “Ele se encontrava em local diverso no momento do crime. Está colocando à disposição todas as informações referentes ao dia do ocorrido”, disse.
Ainda conforme argumentou o criminalista, o vigilante que delatou o PM mudou a versão e passou a negar a autoria.
“Foi um ato de covardia muito grande”, diz vítima
Em entrevista ao Diário do Litoral por telefone, Humberto Santiago diz que a sensação com o esclarecimento do caso é de alívio e elogiou o trabalho da Polícia Civil.
“A DIG foi muito rápida em desvendar o caso”.
Santiago também agradeceu o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, por ter acompanhado os trabalhos.
De férias com a família no Sul do País, o chefe de gabinete diz que já tinha convicção de que o empresário estava por trás do crime no momento em que foi baleado. “Por
muita coincidência (os executores do atentado) andam com ele”, afirmou.
Santiago diz que ão tem nenhum tipo de ligação com o fechamento do Juá, em julho deste ano.
“Eu não tenho autonomia nenhuma para isso. Quem fechou o Juá foi a Secretaria de Comércio (Negócios e Assuntos Portuários), porque o Juá não tinha a documentação
necessária”.