Santo Amaro busca reduzir deficit mensal de R$ 1 milhão

Hospital do Guarujá possui 275 leitos sendo 200 destinados ao atendimento público de saúde

30 MAI 2016 • POR • 10h00
Custeio mensal do hospital é de quase R$ 10 mi; unidade conta com investimento federal, estadual e municipal - Matheus Tagé/DL

A situação dos hospitais filantrópicos da Baixada Santista não é boa. Com dificuldades devido aos baixos repasses governamentais e queda no atendimento da rede de saúde suplementar, as entidades buscam saídas para não reduzir serviços à população. No Hospital Santo Amaro, em Guarujá, o cenário não é diferente. Com deficit mensal de cerca de R$ 1 milhão, o equipamento pleiteia, junto à Prefeitura, reajuste no valor do contratos de serviços. A Administração Municipal disse que pretende, nesta semana, apresentar nova proposta.

“A gente sabe que há uma necessidade crescente de exames, internações e cirurgias. Do lado contrário, o poder público não tem dinheiro para investir em saúde. A gente como prestador fica no meio dessa briga. Até temos condições de aumentar essa produção, mas tem um limitador de teto que nos é imposto”, afirmou José Diógenes, gestor do Hospital do Santo Amaro.

O Santo Amaro possui 275 leitos. Desse total,  200 são destinados ao atendimento da rede pública. O custo mensal da unidade é de aproximadamente R$ 10 milhões. Metade deste valor é proveniente de repasses dos governos federal, estadual e municipal. A unidade realiza mensalmente, em média, 22 mil atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“Já houve anos que o investimento do Governo do Estado foi um pouco maior, mas, ano a ano, vem reduzindo. O próprio Governo Federal, às vezes, não dá teto. Hoje, com esses valores, não dá para cobrir toda a despesa. Somos um hospital geral que também atende convênio. E 80% do serviço é voltado para o SUS”, disse Diógenes.

O financiamento por parte do Governo Federal no Santo Amaro é de um pouco mais de R$ 3 milhões por mês.

A Prefeitura de Guarujá investe mensalmente R$ 1.067.423,72. Os valores repassados pelo Governo Estadual compreende dois programas que totalizam R$ 972.891,82. Um deles é de apoio à Santas Casas e condicionado ao atendimento regional.  

“O Pró-Santa Casa II é um incentivo e por ele tenho que atender um pouco mais de hemodiálise e fazer um pouco mais de cirurgias. Atendemos gente de toda a Baixada Santista. Como o estado tem poucos leitos ele paga para alguns hospitais. O Santo Amaro não recebe gente apenas do Guarujá. Esse ano nós temos a previsão de 36 cirurgias de ortopedia”, explicou o gestor.

Convênio. O gestor do Santo Amaro explicou que o faturamento obtido por meio dos atendimentos dos planos de saúde costuma cobrir o déficit do SUS, no entanto, com a queda do número de pessoas na rede suplementar, o setor tem sofrido uma crise. Além de não haver aumento nos valores dos serviços, muitas operadoras estão com dificuldades em honrar os pagamentos.

“Em geral o convênio acaba injetando dinheiro no SUS. O deficit do SUS é coberto pelo convênio. Mas pela situação financeira hoje, com muita gente perdendo o plano, aquele braço do convênio que servia para cobrir foi reduzido e os nossos prejuízos está mais acentuado. Posso dizer que, em geral, o hospital está fechando todo mês com R$ 1 milhão negativo. Oitenta por cento desse prejuízo seria SUS. O convênio é superavitário. Tem mês que varia para mais ou para menos. Depende da produção”, afirmou Diógenes. O número é referente aos registros do último trimestre.

Prefeitura vai apresentar nova proposta

Depois do Governo Federal, o maior investimento público que entra no hospital é por meio de contrato firmado com a Prefeitura de Guarujá. O Santo Amaro é a referência no atendimento na cidade. Segundo Diógenes, a entidade busca reajuste no contrato de serviços desde janeiro.

“Somos um hospital contratualizado. Tudo o que faço é contratualizado com a prefeitura do Guarujá. Uma parte dele é variável e fixo e o variável está atrelado a metas. Ele vem complementar o SUS. A gente tem conversado desde janeiro para reconduzir o plano para ter uma melhor remuneração ou ter uma outra linha, pois não tem como fugir disso. Pelo valor que se paga não consegue se oferecer o mesmo serviço”, destacou.

A Prefeitura informou por meio de nota que durante os últimos anos, sempre buscou aumentar os repasses do tesouro municipal ao Hospital Santo Amaro, que na visão da Administração Municipal é peça fundamental na saúde pública da Cidade.  Disse ainda que a evolução dos repasses aumentou 534% de 2008 a 2016.

A Administração Municipal disse que apresentará, nesta semana, uma nova proposta ao Santo Amaro, na qual os valores mensais serão de mais de R$ 1,3 milhão. A prefeitura ressaltou que ainda busca recursos vinculados junto ao Governo Federal para aumentar o repasse.

Otimização de processos e redução do quadro

Para conter a crise e diminuir o deficit, o Hospital Santo Amaro tomou algumas medidas. Entre elas, reduzir o quadro de funcionários que, atualmente, é de 1.500 colaboradores (ativos e afastados). A entidade também pretende otimizar os processos internos e buscar o aumento dos repasses ­governamentais.

“A ideia é otimizar os processos internos, melhorar os processos de auditoria, reavaliar contratos de serviços médicos, de prestação de serviços e trabalhar para reduzir as metas de permanência. Temos um problema grande no Guarujá que tem uma população muito carente”, destacou o gestor do hospital.

Segundo Diógenes, muitas pessoas não buscam atendimento primário nas unidades de saúde e chegam ao hospital em estado crítico. “O paciente que chega aqui, muitas vezes, não é um doente que você atende e é liberado em três, quatro dias. Chega baqueado e o tratamento ultrapassa muito o pacote do SUS. O nosso trabalho é de reavaliação constante”, afirmou Diógenes.

Sobre os cortes no quadro de funcionários, o gestor disse que foi necessário. “A gente acabou tendo algumas demissões. Em um momento desses de crise o hospital se viu obrigado a encolher alguns serviços”, explicou. Outra medida tomada pelo hospital foi a redistribuição dos leitos.

Trabalhando há 24 no Santo Amaro, Diógenes diz que já viu crises piores, mas que o momento requer atenção.

“Entrei como auxiliar de contabilidade. Já vi momentos piores. Anos 1990. Já passamos momentos muito complicados. Este momento também é complicado e que envolve os níveis federal, estadual e municipal nos deixando um pouco sem perspectivas de futuro. O ministro (da Saúde) fala que só tem dinheiro para certos programas até setembro, mas a produção não para. O financiamento desce a necessidade sobra”, ­destacou.

Maternidade referência em parto humanizado

A jovem Bruna dos Santos Brito caminha com o seu filho recém-nascido pelo corredor da maternidade do Hospital Santo Amaro. Moradora do Paecará, bairro da periferia de Guarujá, a estudante deu à luz ao menino no domingo (21). Acomodada em um leito moderno e com estrutura de rede particular, ela disse que foi surpreendida pelo atendimento de qualidade. A unidade, que atende apenas grávidas do Sistema Único de Saúde (SUS), é referência na Baixada Santista.

“Todo mundo falava que era muito boa. Diziam que mudou muito, e de fato, fiquei surpresa com a estrutura que é muito boa”, afirmou Bruna, que teve parto normal. A maternidade do Santo Amaro, que é mantida em parceria com a Prefeitura de Guarujá, é preparada para atendimento humanizado e realiza cerca de 300 partos por mês.

O Diário do Litoral teve acesso ao interior da maternidade. As salas de parto possuem equipamentos modernos, televisão e são climatizadas. Há banheira e estrutura para o parto humanizado. Os quartos, que contam com suítes preparadas para atender as necessidades das parturientes, acomodam duas mulheres, que podem ficar acompanhadas integralmente. Os leitos possuem divisórias para garantir privacidade. O setor destoa dos demais do hospital.

Para a enfermeira Joseni Castilhano Matos, gerente da maternidade, as condições atuais da unidade é a realização de um sonho. “Houve uma grande mudança. A gente tinha essa proposta e há dois anos inauguramos a maternidade. Foi um sonho concretizado. Ela foi criada dentro da política nacional da humanização pensando no melhor para as pacientes”, disse. Joseni Castilhano Matos trabalha há 20 anos no Santo Amaro.