Justiça determina saída dos estudantes de colégio de Santos

Se saída não for espontânea, oficial de Justiça deve ir a unidade com a Polícia Militar. Outras duas escolas seguem ocupadas na Região

25 NOV 2015 • POR • 14h44
Alunos relatam falta de aulas e exclusão de séries - Matheus Tagé/DL

A ocupação da Escola Estadual Cleóbulo Amazonas Duarte, em Santos, deve terminar hoje (24). Isso porque a Justiça decidiu favoravelmente ao pedido de reintegração de posse do Governo do Estado de São Paulo. Um oficial de Justiça, acompanhado da Polícia Militar e de membros do Conselho Tutelar devem ir até a unidade escolar solicitar a saída dos alunos, caso ela não ocorra espontaneamente. Outros dois colégios seguem ocupados na Região: a EE Azevedo Júnior, em Santos, e a EE Renê Rodrigues, em Guarujá.

No despacho proferido ontem pelo juiz Marcio Kammer, da 2ª Vara da Fazenda Pública do Foro de Santos, no cumprimento da ordem de reintegração de posse foi recomendado ao oficial de Justiça e ao comando da Polícia Militar “prudência e cautela no cumprimento na ordem, conferindo-lhes poderes para negociação da mais adequada e pacífica forma de desocupação, reservando-lhes inclusive a possibilidade de concessão de prazo e fixação de data para cumprimento da ordem”.

Um oficial de Justiça notificou os estudantes sobre a decisão da Justiça na noite da última segunda-feira (23). Na noite de ontem, o estudantes realizariam uma assembleia para deliberar sobre a decisão judicial.

Desmonte

A EE Cleóbulo Amazonas Duarte foi ocupada pelos estudantes na última quinta-feira (19), em protesto contra a reorganização escolar que será implementada pelo Governo do Estado a partir de 2016. A escola não integra a lista de unidades que serão atingidas pela medida. No entanto, alunos e dirigentes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) denunciam o desmonte gradual do colégio.

“Aqui está muito ruim o ensino, e não é só isso, o local, o ambiente onde a gente convive. Um exemplo é a pintura. Eles falaram que não iam cortar os anos e nem retirar salas. Tinha o quinto, o sexto e o sétimo ano e agora só tem o sétimo. O plano deles, no ano que vem, era de tirar o sétimo e oitavo depois o nono e deixar Ensino Médio e voltaram atrás, mas as vezes só estão com a estratégia. Sempre mentem, falam que não vão fazer, mas quando a poeira abaixa eles vão lá e fazem”, disse Jhonny da Silva Guedes, aluno do segundo ano do Ensino Médio da EE Cleóbulo Amazonas Duarte.

O Diário do Litoral conversou com o estudante na tarde da última segunda-feira (23). Além da extinção das séries, o jovem falou sobre a falta de professores e de aulas. “O movimento vai além do fechamento. Tem muita falta de professor. Aula de história no Cleóbulo só tive duas o ano inteiro. E nem foi aula. O professor chegou passou um texto e a gente copiou. Para mim aula não é isso porque não estou aprendendo nada. Para aprender a gente tem que discutir. Tirar dúvida e isso muitas vezes não acontece”, destacou.

Mobilização

Jhonny disse que nunca participou de movimentos e que chegou a atuar no grêmio da escola, mas que nunca foi reconhecido em cartório. Decidiu participar da ocupação porque enxerga a unidade muito além das paredes ou da lousa. “Eu sempre fui muito ligado à escola. Gosto de ser amigo do pessoal daqui, afinal eu vivo aqui mais tempo do que a minha casa”.

Sobre as atividades durante a ocupação, o estudante ressaltou as decisões coletivas e as ações culturais. “A interação está boa. A programação a gente sempre pergunta para os alunos o que eles querem ter. O que é bom para eles é bom para mim também. A gente sempre decide. Hoje nós estamos pintando o pátio. A escola não tinha uma pintura adequada”, ressaltou.

Ontem, o DL entrou na EE Cleóbulo Amazonas Duarte. Os alunos realizavam atividades diversas. A quadra foi pintada e limpa e as paredes da unidade ganharam desenhos grafitados com cores vivas. Sobre a ocorrência do furto de tablets da unidade, registrada pela direção da escola, os alunos não quiseram se manifestar. Saiba mais na página 10.

Reorganização

A proposta de reorganização escolar do Governo do Estado prevê 15 novas escolas de ciclo único de ensino, na Região, totalizando 44 unidades. Três escolas serão fechadas em Guarujá: Jardim Primavera II, Lamia Del Cistia e Renê Rodrigues de Moraes. A medida previa o fechamento da EE Brás Cubas, em Santos, mas uma liminar da Defensoria Pública do Município impede sua desativação.