Com a crise, lucro da Sabesp cai pela metade e rodízio não está descartado

Somente com o programa de bônus criado em fevereiro de 2014 para estimular a economia de água pela população durante a crise, a estatal deixou de arrecadar R$ 376,4 milhões

27 MAR 2015 • POR • 11h12

Relatório divulgado na quinta-feira, 26, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ao mercado financeiro aponta queda 53% no lucro da estatal em 2014, quando teve início a crise hídrica, e não descarta a adoção de rodízio oficial no abastecimento de água na Grande São Paulo.

"Se a estiagem continuar e os níveis dos reservatórios permanecerem reduzidos, a Sabesp não poderá assegurar que o programa de bônus e outras medidas tomadas em 2014 e início de 2015 serão interrompidos, nem se terá condições de atender toda a população de sua área de atuação", afirma a companhia.

Leia Também

CNM critica cancelamento de contagem populacional

Processo sobre limites do Cantareira aguardará estudos da Sabesp

CNC avalia que desemprego pode elevar inadimplência

Receita recebe mais de 5,3 milhões de declarações do Imposto de Renda

Anatel: País termina fevereiro com 24,285 milhões de acessos da banda larga fixa

Segundo o balanço financeiro anual, o lucro da Sabesp caiu de R$ 1,9 bilhão em 2013 para R$ 903 milhões no ano passado. Somente com o programa de bônus criado em fevereiro de 2014 para estimular a economia de água pela população durante a crise, a estatal deixou de arrecadar R$ 376,4 milhões.

"A extensão da seca e as medidas adotadas provocaram uma redução gradativa do volume faturado de água e, portanto, uma redução da receita. Em 2014, o volume faturado de água caiu 3,1% e a receita operacional bruta decresceu 6,7%, comparada a 2013", diz a companhia. A receita total, contudo, manteve-se praticamente estável, totalizando R$ 11,2 bilhões, apenas 0,9% menor do que no ano anterior.

"A Sabesp não pode garantir que ao final do programa de bônus, o referido consumo retornará aos níveis anteriores à atual crise de água. Um menor consumo per capita pode afetar negativamente nossos negócios e o resultado das operações no futuro", informa o relatório. "Caso a seca persista, a companhia poderá ser obrigada a tomar medidas mais drásticas, incluindo a implementação do rodízio de água", completa.

O balanço destaca ainda que mesmo com a conclusão do processo de reajuste tarifário em abril de 2014, muito aguardada pelo mercado e aplicado apenas em dezembro, após as eleições ao governo, "as ações da Sabesp ao longo do ano refletiram a imprevisibilidade dos efeitos da forte estiagem que tem atingido a área de atuação da companhia desde o final de 2013".

Os dados mostram que as ações da Sabesp sofreram desvalorização de 35,7% em relação a 2013 (no mesmo período o Ibovespa desvalorizou 2,9%), e o valor de mercado da companhia caiu de R$ 18,1 bilhões para R$ 11,6 bilhões em 2014. No início deste mês, a Sabesp pediu à Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp) uma revisão extraordinária da tarifa para realizar um equilíbrio econômico-financeiro por causa da crise. No relatório, porém, a estatal não fornece mais detalhes da proposta.

No documento, a Sabesp destaca que reduziu em 56% a produção de água do Sistema Cantareira e em 30% a produção para a população da Grande São Paulo, de 71 mil litros por segundo para 50 mil l/s. Segundo a estatal, o consumo diário de água per capita na região metropolitana caiu de 163 litros por habitante para 126 l/hab.

Perdas

A companhia ressalta ainda que o índice de perdas de água tratada na distribuição caiu de 31,2% para 29,8%. A empresa afirma, contudo, que esse resultado, considerado significativo, é "influenciado pela 'gestão de pressões', cujo efeito deve ser anulado quando a operação se normalizar". No início da crise, a Sabesp intensificou a redução da pressão da água, que atinge 60% da rede. Nos outros 40%, a estatal fecha manualmente o registro.