Leptospirose, a epidemia emergente

O nome é difícil de falar. Já a doença é fácil de se contrair

3 FEV 2013 • POR • 17h36

Saiba mais sobre esse problema de saúde pública que hoje coloca em risco principalmente as populações das grandes cidades. A doença é infecciosa e pode ser grave. Encontrada no mundo inteiro, exceto nas regiões polares e nos desertos, é mais comum em animais e por isso é classificada como zoonose — mas pode ser transmitida a seres humanos.

Definida como uma enfermidade relacionada à água, a leptospirose é considerada uma epidemia emergente no planeta pela Organização Mundial da Saúde OMS), em especial em países de clima tropical.

Até pouco tempo, acreditava-se que o perigo rondava apenas a área rural — mas os números mostram que o risco é ainda maior para a população que vive nas cidades. O motivo? Ratos. Milhões deles: só em São Paulo calcula-se que existam 15 para cada habitante.

A bactéria transmissora, a leptospira, é endêmica nesses animais, que a eliminam na urina. Quando há enchentes, essa urina contaminada, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama, elevando o risco de contágio.

No Brasil, anualmente, são notificados mais de quatro mil casos de leptospirose — e a taxa de mortalidade é de cerca de 12%, de acordo com o Ministério da Saúde. Em 2000 foram registradas 4.128 vítimas da doença, a maior parte delas no estado de São Paulo, segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Mas o índice fatal pode ultrapassar a média e chegar a 40 mortes em cada 100 doentes.

Mais: calcula-se que apenas a décima parte dos casos é notificada corretamente aos serviços de saúde. “Na maioria das vezes, os sintomas não são tão fortes e a enfermidade pode ser confundida com uma virose ou uma gripe.

Deste modo, as pessoas não procuram um médico”, revela o infectologista Stefan Cunha, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Por isso, aliás, o médico Albert Ko, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, acredita que existam mais de dez mil casos anuais no Brasil.

Um número assustador se comparado ao registro de outras doenças infecciosas graves: todo ano, por exemplo, são identificados aproximadamente três mil casos de leishmaniose visceral e meningite meningocócica no país.

Por que a doença se alastra

O primeiro caso de leptospirose em seres humanos no Brasil foi notificado oficialmente em 1917 — apesar de a doença já ser conhecida desde o século XIX.

Acredita-se que a bactéria leptospira chegou ao país viajando junto com os roedores dos navios ne greiros. Atualmente, ela pode estar em um alagado na Amazônia, cis ternas, tanques ou caixas d’água. E, acredite, até na água empoçada na cal çada de um bairro nobre da cidade. Basta que um rato passe por ali e deixe a bactéria em concentração suficiente para disseminar a infecção.

Outros fatores também colaboraram para alastrar a doença, como a falta de saneamento básico, de coleta de lixo adequada e de drenagem das águas pluviais. Segundo dados do Atlas de Saneamento, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), enchentes, acúmulo de sujeira e água sem tratamento estão diretamente relacionados com o aparecimento de doenças.

Não é à toa que as epidemias da leptospirose humana, como as registradas no Rio de Janeiro em 1988 e 1997, costumam acontecer no verão. Nesta época, o volume de chuvas é maior e ocorrem mais inundações. Essa é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Acre, Amapá, Pará e Rio Grande do Sul são os estados com alta incidência de leptospirose, mas ela é registrada em todo o território nacional — só no município de São Paulo foram notificados 271 casos em 2005, com 46 mortes, de acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica, ligado ao Ministério da Saúde.