Outubro Rosa: Uma história de luta e amizade

A dona de casa Ana Lúcia Henrique, 39 anos, conta como supera o câncer de mama

12 OUT 2014 • POR • 10h13

Era apenas mais um ciclo menstrual, como ocorria regularmente todos os meses. Fevereiro de 2013. A dor nos seios, comum nesse período, veio com maior intensidade na mama direita. Fortes pontadas indicavam que algo não estava normal. Em abril, as dores aumentaram e os sintomas se misturaram a uma incômoda febre. Chegara a hora de Ana Lúcia Henrique procurar atendimento médico de urgência. A apalpação da ginecologista de plantão daria o prédiagnóstico: um nódulo de aproximadamente quatro milímetros.

A história de Ana Lúcia, 39 anos, com a luta contra o câncer de mama iniciara naquele dia. Mais de um ano após a descoberta do nódulo, e uma recente mastectomia (remoção) da mama direita, a dona de casa de 39 anos revela ao Diário do Litoral como supera o problema com um largo sorriso no rosto e uma vontade enorme de viver.

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“Percorri diversas unidades de saúde de São Vicente. Foram cinco meses aguardando a oportunidade de realizar os exames que confirmariam o tumor maligno. Até hoje não me ligaram. Se não fosse um anjo aparecer em minha vida, não estaria aqui para contar essa história”, afirma Ana Lúcia. Nesse momento, os olhos dela se enchem de lágrimas. A amiga, Patrícia Santanna, que acompanha a entrevista também se comove.

O anjo a qual ela se refere é a filha de Patrícia. Grávida da menina, na entrevista de Pré-Natal em outubro do ano passado, a amiga relatou à enfermeira o sofrimento de Ana Lúcia, que via, a cada mês, o nódulo e a dores aumentarem sem ter acesso aos exames necessários. “Não sei porquê, mas não senti, naquele momento, vontade de falar de mim, do meu momento. Somente falei dela”, conta Patrícia.

Comovida com o relato, a enfermeira solicitou que Ana Lúcia procurasse a unidade de saúde. Conseguira uma consulta na Santa Casa de Santos. Teve acesso aos exames que confirmariam o tumor maligno e iniciou uma corrida contra o tempo. A gravidez de Patrícia seguiu até o sétimo mês. O bebê, de nome Mayara, nascera sem vida. “Ela veio para salvar a minha vida”, afirma Ana Lucia emocionada.

Em 12 de novembro, Ana Lucia recebeu o resultado esperado. Não teve reação. “Não senti nada. Apenas pensei na minha razão de viver, a minha filha. Sou pai e mãe dela”, conta. Ela, que tem um filho de 20 anos, mora sozinha com a filha Ana Karolyna, de 7 anos. A menina, apesar da pouca idade, lhe ajuda nas tarefas domésticas. “Digo que é a minha mini-mãe”.

As sessões de quimioterapia foram inevitáveis. Não demorou muito o cabelo de Ana Lúcia começou a cair. Muito vaidosa, ela não se deixou abater. Raspou o cabelo e passou a utilizar lenços coloridos na cabeça. Nem mesmo as dores insuportáveis e as reações dos medicamentos foram capazes de lhe tirar o belo sorriso do rosto. “Enfrentei com naturalidade o problema. Não adianta chorar. A gente tem que viver. Não adianta ficar trancada dentro de casa”, destaca.

O tumor, que já alcançava 9 centímetros, crescia cada dia mais e seria necessária a retirada total da mama direita. No último dia 4 de junho, quase um ano depois do diagnóstico, Ana Lúcia foi ao oncologista e não retornou para casa. Uma vaga para cirurgia havia surgido. “Quando a ficha cai a gente chora. A minha filha não reagiu bem ao ver o resultado. Mas hoje eu brinco com a situação”, diz Ana, que não demonstra vergonha ao retirar a prótese e mostrá-la à Reportagem. “Às vezes me esqueço de colocá-la e saio na rua. As pessoas ficam olhando. Nem ligo”.

Mas a luta de Ana Lúcia ainda não terminou. Por precaução, ela ainda terá que fazer outras 28 sessões de radioterapia e quimioterapia. Radiante, por ter virado uma dura página da vida sorrindo, ela não planeja o futuro. “Aprendi que a gente tem que viver um dia de cada vez. Não adianta se abater. Quero viver um dia após o outro e ser feliz. Muito feliz. Deus sabe de todas as coisas”.