Preta encontra o conhecimento

“O Educafro representa o que eu sou. Foi lá que aprendi que ser negro é legal”

28 AGO 2014 • POR • 17h42

“O Educafro representa o que eu sou. Foi lá que aprendi que ser negro é legal”. A rapper e cantora santista, Joyce Fernandes, mais conhecida como Preta Rara, conheceu o projeto em 2006. Bacharel em História há três anos, ela conta que não acreditava que um dia poderia frequentar uma universidade.

“Conheci o Educafro ao cantar nas atividades que o projeto desenvolvia, mas não imaginava que eu poderia frequentar as aulas”, conta. A cantora foi incentivada pelo amigo Zé Elias, um dos fundadores do núcleo Vila Margarida, a frequentar as aulas. Foi no bairro vicentino que ela começou a participar das atividades aos domingos. “Moro na Zona Noroeste, em Santos, e ia de bicicleta até a Vila. Depois soube que tinha aulas no Valongo e fui pra lá”, afirma.



Após dois anos participando das aulas do projeto, Preta se inscreveu no vestibular da Universidade Católica de Santos (Unisantos) para tentar uma vaga no curso de História. A instituição de ensino mantia convênio com o Educafro e um bom resultado na prova poderia lhe render uma bolsa integral. “Não rolou. Eram 40 bolsas, mas a reitora decidiu que concederia apenas 21, escolhendo aleatoriamente os beneficiados. Mesmo com uma boa nota acabei ficando de fora”, conta.

Mesmo sem o incentivo da bolsa, Preta Rara não voltou atrás. Trabalhava como faxineira em uma casa e, para completar o dinheiro da mensalidade passou a limpar outro imóvel. A ajuda da família e dos amigos também foi imprescindível para que ela conseguisse terminar o curso. “Ainda no primeiro ano consegui um emprego como operadora de telemarketing de uma empresa de telefonia. Fazia de tudo para vender muitos produtos e assim ter mais grana para pagar a faculdade”, relata. Um estágio no Engenho dos Erasmos, em Santos, garantiria o pagamento sem preocupação. “A bolsa auxílio era alta. Além disso, tinha por trás a Universidade de São Paulo (USP) que me fez aprender muita coisa”.



Aos 24 anos, em 2011, Preta Rara se formou. A ideia de que faculdade era coisa para rico havia ficado para trás. O que ouviu no Educafro foi o bastante para mantê-la firme em seus propósitos. “Ouvi, quando faxineira, que não sairia daquela condição, que nem todo mundo nasceu para ser chefe. O Educafro me ensinou que era necessário manter o foco no meu objetivo, e que eu poderia ser o que eu quisesse”, destaca.

A cantora relata em suas músicas a questão étnica e de gênero. Ela atribui também ao Educafro a bagagem que lhe permite escrever o cotidiano e os problemas que cercam negros e pobres, sobretudo as mulheres. “A música Falsa Abolição é um exemplo”, disse. Atualmente, Preta Rara concilia a carreira de cantora com as aulas para alunos do Ensino Fundamental no Colégio Exemplo, no Humaitá, bairro da Área Continental de São Vicente, escola a qual leciona há quase três anos. Aos seus alunos, além do conhecimento acadêmico, ela repassa os ideais que um dia lhe motivou a buscar o caminho do sucesso. “Enxergo o mundo sobre outra perspectiva”, finaliza.