Polícia indicia pai, madrasta e amiga por morte de Bernardo

O menino, que tinha 11 anos, foi filho do primeiro casamento de Leandro, com Odilaine Uglione, que, segundo a polícia, se suicidou em 2010

13 MAI 2014 • POR • 19h35

A Polícia Civil indiciou nesta terça-feira, 13, o médico Leandro Boldrini, a enfermeira Graciele Ugulini e a assistente social Edelvânia Wirganoviz por homicídio qualificado e ocultação de cadáver no inquérito que investigou a morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, encerrado e remetido à Justiça nesta Terça-feira.

Bernardo, que tinha 11 anos, foi filho do primeiro casamento de Leandro, com Odilaine Uglione, que, segundo a polícia, se suicidou em 2010. O garoto vivia com o pai e a madrasta, Graciele, em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul e desapareceu de casa no dia 4 de abril deste ano. O corpo foi encontrado no dia 14 de abril em Frederico Westphalen, a 80 quilômetros da residência da família.

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Segundo a polícia, o crime tem os agravantes de ter sido cometido por motivo fútil, o incômodo do casal com a presença do menino; por meio insidioso, o convencimento à ingestão de medicamentos; com uso de dissimulação que impossibilitou a defesa da vítima, o convite a uma viagem ao município vizinho para comprar um aquário; e, ainda, mediante pagamento e recebimento de dinheiro, já que a assistente social recebeu R$ 6 mil para participar do plano.

A investigação apurou que Graciele viajou com Bernardo a Frederico Westphalen no dia 4 de abril prometendo ao menino que compraria o aquário que ele queria na cidade vizinha. No destino, câmeras de segurança de um posto de combustível mostraram madrasta e enteado descendo de uma caminhonete e embarcando em um automóvel em companhia de Edelvânia. Posteriormente, a enfermeira e a assistente social voltaram sozinhas.

Com base nas imagens, os policiais obtiveram um depoimento inicial de Edelvânia e chegaram ao corpo e a outras provas, como uma pá e uma cavadeira usadas na abertura da cova, em um matagal, comprovantes da compra do utensílio e também do medicamento midazolam em uma farmácia, com receita emitida pelo médico para Edelvânia.

Em depoimentos, Graciele admitiu que o garoto morreu em suas mãos, por ingestão "acidental" de excesso de calmantes, Edelvânia admitiu ter ajudado a ocultar o cadáver, e Leandro afirmou que é inocente. A polícia entendeu que pai e madrasta foram "mentores" e executores do plano para se livrar do garoto, ocultar o cadáver e sustentar a história do desaparecimento, enquanto Edelvânia concordou com a trama e participou de todas as etapas posteriores à elaboração.

O Ministério Público tem cinco dias para analisar o inquérito e oferecer a denúncia contra parte ou todos os acusados, pedir novas diligências ou arquivar o caso, hipótese improvável. Posteriormente, a Justiça abre o processo e os prazos para defesa e acusação apresentarem testemunhas e argumentos e determina se a decisão vai a júri popular ou não.

Os três indiciados estão presos desde o dia 14 de abril. A policia pediu a conversão da prisão temporária, que venceria nesta terça-feira, em preventiva, sem prazo determinado para acabar. O Ministério Público deu parecer favorável. Até o fechamento desta edição a Justiça não havia se pronunciado.

A delegada Caroline Bamberg Machado revelou que a investigação da participação do motorista Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, no crime, vai prosseguir à parte do inquérito remetido à Justiça nesta terça-feira. Ele foi preso temporariamente no sábado como suspeito de ter ajudado a abrir o buraco para enterro do corpo. "Temos de trabalhar ainda para identificar qual foi a participação efetiva dele", justificou.

Participação do pai

O final do inquérito revelou a posição da polícia quanto à participação do pai no assassinato. O médico havia sido inocentado pelos depoimentos da madrasta e da assistente social, mas os investigadores concluíram que ele foi mentor, colaborou com a emissão de receita e agiu para encobrir o crime.

A delegada Simone Bamberg Machado relatou, em entrevista coletiva, passagens de descaso do pai em relação ao filho, contradições entre seus depoimentos e documentos obtidos pela polícia, emissão de receita de midazolam para Edelvânia e acordo entre advogados para inocentá-lo.

No domingo, 6 de abril, dois dias depois do desaparecimento, quando enfim foi procurar o filho nas casas dos vizinhos, Leandro teria dito que não tinha como achar o garoto porque ele não havia levado o telefone. "No depoimento ele disse que havia ligado na sexta, sábado e domingo", destacou a delegada, desconfiada de telefonemas dados quando o suspeito já saberia que o filho estava morto. "Por que fez as ligações se não para montar a história dele?", questionou.

A polícia também acredita que os advogados dos três indiciados montaram uma estratégia de defesa em conjunto para tentar inocentar o médico. "Há conversas entre familiares de Leandro e Graciele afirmando que os advogados estavam arquitetando estratégia de defesa para que Graciele e Edelvânia assumissem o crime, inocentando Leandro e dessa forma ele iria bancá-las financeiramente", revelou a delegada, referindo-se a escutas feitas com autorização da Justiça.

O advogado de Leandro, Jáder Marques, estava em Três Passos e falou com repórteres que cobriam a coletiva. O defensor do médico considerou a argumentação da polícia "frágil" e sem qualquer comprovação de participação do cliente no crime. Os advogados de Graciele e Edelvânia não foram localizados pela reportagem.