Santa Casa de Santos internou 127 pacientes com queimaduras em 2010

Pesquisa do Hospital das Clínicas, em São Paulo, aponta que em 2010 cerca de 80% das queimaduras ocorreram dentro de casa; 40% dos acidentados tinham entre de 0 a 9 anos de idade

13 JAN 2013 • POR • 21h47

Em 2010, 127 pessoas foram internadas na Santa Casa de Misericórdia de Santos com queimaduras, sendo 68 adultos e 59 crianças. Neste ano, segundo o médico-chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do hospital, Sylvio Corrêa da Silva Junior, em oito meses os casos já se aproximam do número total do ano passado.

Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas, em São Paulo, em 2010, cerca de 80% das queimaduras resultaram de acidentes domésticos, sendo 40% dos acidentados com idades de 0 a 9 anos. “Hoje tem um sistema de prevenção de acidentes do trabalho muito bem organizado, há cursos para os funcionários para evitar o acidente, então o número de acidentes de trabalho tem diminuído muito, por isso que há uma prevalência dos acidentes domésticos devido ao descuido das pessoas”. 

Os casos mais comuns de queimaduras registrados na Santa Casa de Santos em 2010, segundo o chefe do Serviço de Queimados, são os acidentes por escaldadura (água fervente), especialmente pelo descuido da dona de casa no manuseio com panelas, quando foram registrados 48 casos. Essas queimaduras são as mais corriqueiras, principalmente no inverno. No caso das crianças, as mãozinhas na porta do forno são acidentes também frequentes.

A estatística aponta ainda oito acidentes com uso de álcool no preparo de churrasco ou ao fazerem bife na chapa. Já no ambiente de trabalho foram 10 acidentes. São trabalhadores que atuam na indústria e que se acidentaram com ácido ou vapor aquecido das caldeireiras. Aparecem também no balanço, três vítimas de acidentes com eletricidade e quatro por suicídio.

O médico Sylvio Corrêa alerta que as queimaduras em crianças e idosos são mais graves do que em adultos. “O organismo da criança descompensa mais facilmente com uma queimadura extensa do que no adulto. No idoso qualquer queimadura também é muito grave”.

Além disso, Sylvio Corrêa afirma que a maior incidência de acidentes ocorre entre a população de baixa renda, principalmente famílias que deixam as crianças sozinhas em casa.

Gravidade das queimaduras

As queimaduras podem ser de primeiro, segundo e terceiro graus. As queimaduras de sol são de primeiro grau, as queimaduras com líquido fervente são de segundo grau e formam bolhas na pele. Já as queimaduras de terceiro grau são ocasionadas por fogo, sólido aquecido como panelas ou escapamento de moto, por exemplo.

Cuidados

O médico Sylvio Corrêa alerta para a importância da prevenção e dos primeiros cuidados em caso de queimaduras. “A primeira coisa a fazer é lavar a área queimada com água em abundância, em seguida procurar o hospital. Jamais passar pomada, medicamentos ou fazer uso de tratamentos caseiros como pasta de dente, que eram mais comuns antigamente. Quanto menos se fizer em casa, melhor”.

O médico explica que a queimadura de segundo grau não pode ficar aberta porque favorece a infecção por germes, o que pode agravar o ferimento e a queimadura evoluir para terceiro grau.

Queimadura por eletricidade

A queimadura elétrica pode provocar até amputação de membros, segundo alerta o especialista. “Eu já atendi crianças com o dedinho necrosado porque enfiaram o dedo na tomada e perderam a ponta do dedo”. Na hora da queimadura fica vermelho, mas em alguns dias ocorre a necrose do membro e é necessário amputar.

“Ela (queimadura por eletricidade) lesa os vasos, lesa os nervos, então aquele vermelhinho que ficou da queimadura, aparentemente sem importância, depois de três dias a pessoa aparece no hospital já com o dedo necrosado. A queimadura elétrica corre pelo vaso (sanguíneo), necrosa o vaso e bloqueia a circulação do sangue, então ocorre a necrose”.

Risco de morte

Existem vários fatores que podem levar a pessoa que sofre uma queimadura grave ao óbito. No grupo de risco estão pessoas com baixa resistência física, que tenham alguma doença, alcoólatras, crianças e idosos, mas o quadro começa a preocupar quando a pessoa tem mais de 40% do corpo queimado.

“Nas queimaduras extensas de segundo e terceiro graus, mais profundas, a gente considera gravíssimas acima de 40% da superfície corporal. Essas vão precisar de enxertos e tratamento de UTI”.

Internação

O período de internação dos pacientes graves na Santa Casa é de 20 dias em média, podendo demorar mais ou menos, dependendo de cada caso. Há casos em que a pele cicatriza sozinha e há casos em que há a necessidade de enxertos de pele, que são retiradas do próprio paciente para cobrir a área afetada.

Dor

“A queimadura de sol dói demais, a queimadura de segundo grau dói também, a queimadura de terceiro grau não dói. A mais profunda não dói porque a queimadura de terceiro grau destrói as terminações nervosas da pele e a pessoa não sente nada. Quando aquilo começa a regenerar, que o nervo começa a voltar, começa a doer”.