Brasil evolui, mas continua entre os piores em ranking mundial de ensino

Entre 65 países avaliados em 2012 pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês), o País ocupa o 58º lugar

3 DEZ 2013 • POR • 21h57

Apesar de estar entre os que mais avançaram na década, o Brasil continua entre os piores países em Educação, de acordo com a principal avaliação do ensino básico feita no mundo. Entre 65 países avaliados em 2012 pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês), o País ocupa o 58º lugar.

Desde que a prova foi criada, em 2000, até hoje, o Brasil cresceu 33,7 pontos na média geral das três áreas do conhecimento avaliadas (matemática, leitura e ciências). A diferença nessa média entre 2009 e 2012, no entanto, foi de apenas 1 ponto, o que indica o crescimento lento do País entre os exames.

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Em 2012, 18.589 alunos do Brasil fizeram a prova, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Pisa é aplicado a cada três anos para alunos entre 15 e 16 anos dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), considerados de primeiro mundo, e nações convidadas, como o Brasil. A cada edição do exame, uma área é enfatizada - no caso atual, matemática foi o foco.

O Brasil é destaque no chamado cálculo de melhora, feito com base na última edição em que cada área do conhecimento foi analisada. Em matemática, saiu de 356 pontos em 2003 para 391 pontos em 2012. Desde 2000, os pontos de leitura melhoraram 1,2 ponto por ano e, desde 2006, os pontos de ciências aumentaram em média 2.3 pontos por ano.

Os alunos que possuem as piores médias também melhoraram a atuação em 65 pontos - o equivalente, de acordo com a OCDE, a mais de 1,5 ano de aprendizado. O governo até comemorou os dados, embora considere que alguns pontos teriam melhorado a posição do País na lista. O presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), João Batista Oliveira, também critica a amostragem de alunos brasileiros avaliada, por não refletir a realidade do País. "As diferenças de série são muito grandes e há muita distorção idade/série." Com Turquia, México, Chile, Portugal, Hungria, Eslováquia, Polônia e Casaquistão, o Brasil aparece no relatório como um dos países com contextos socioeconômicos mais desafiadores. Entre todos, fica em último lugar.

Já para o professor Alípio Casali, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os resultados mostram que dificilmente o País conseguirá atingir as metas estipuladas no Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê média de 473 pontos no Pisa até 2021. "Isso preocupa mais porque foram objetivos traçados internamente; não são parâmetros internacionais."

Proficiência

O maior dificuldade do País ainda é o baixo nível de proficiência dos alunos: nas três áreas do conhecimento avaliadas, nenhum aluno atingiu o nível 6, o mais avançado de aprendizado. Já a maioria ficou entre os piores níveis. Em matemática, por exemplo, 67,1% dos alunos avaliados alcançaram somente até o nível 1, o mais baixo - eram 69% em 2010. Isso quer dizer que eles não conseguem ir além de questões básicas. Em ciências, 53,7% atingiram até o nível 1 - entenderam apenas o óbvio. Já em leitura, 75,3% se concentram nos níveis 2 e 3.

Segundo o especialista em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, os estudantes saem do ensino fundamental sem saber o mínimo necessário. "Esses alunos que saem do ensino fundamental e são avaliados pela prova acabam tendo o desempenho que se espera de um aluno do 5.º ou 6.º ano."

Nota menor

Outros especialistas ouvidos pela reportagem ainda destacam que a nota poderia ser ainda menor. Isso porque as escolas rurais não fazem parte do cálculo da média do Brasil no exame. Conforme o relatório, elas não entraram porque não é possível identificar em todas qual é a real série do aluno e, para ser avaliado, é preciso estar no mínimo no 7.º ano.

Outro fator que puxaria a nota para baixo é que a maior parte dos estudantes avaliados (79,5%) está no ensino médio, enquanto a média da OCDE é de 69,9% nessa etapa de ensino. Isso significa que o aluno brasileiro permanece mais tempo na escola, mas aprende menos. A Finlândia, por exemplo, que tem 127,3 pontos a mais que o Brasil, na média geral, tem a maioria de alunos avaliados (85%) no 9.º ano de ensino.