Para Lula e Dilma, prisão agora evita ataques na eleição

Na avaliação do governo, o assunto mensalão só causaria algum estrago para o PT nas disputas de 2014 se os réus do partido fossem presos às vésperas das eleições

15 NOV 2013 • POR • 12h42

Em três horas e meia de conversa, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliaram ontem que a execução antecipada das penas dos réus petistas do mensalão é mais favorável para o governo do que a prisão em 2014, um ano eleitoral. Dilma quer que essa etapa do julgamento termine logo para que adversários não explorem ainda mais o assunto durante a campanha.

Ao deixar o Alvorada, porém, Lula esquivou-se de comentar a possibilidade de prisão imediata de condenados no mensalão, como determinou o Supremo Tribunal Federal na quarta-feira. "Quem sou eu para fazer qualquer insinuação ou julgamento da Suprema Corte?", disse o ex-presidente. "Eu acho que quem tem de discordar ou não são os advogados, que juridicamente têm de saber se pode fazer ou não (a prisão)."

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O diagnóstico sobre o peso do mensalão na campanha ocorreu ontem em almoço oferecido por Dilma a Lula, do qual também participaram os ministros Aloizio Mercadante (Educação), José Eduardo Cardozo (Justiça), o marqueteiro João Santana, o presidente do PT, Rui Falcão, e Paulo Okamotto, que comanda o Instituto Lula. Antes, Lula esteve na cerimônia que recebeu os restos mortais do ex-presidente João Goulart.

Na avaliação do governo, o assunto mensalão só causaria algum estrago para o PT nas disputas de 2014 se os réus do partido fossem presos às vésperas das eleições. Ao liquidarem essa etapa agora, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares cumpririam pena em regime semiaberto, apenas dormindo na cadeia.

Dirceu pode até se livrar do regime fechado, caso o Supremo acate seu recurso contestando o crime de formação de quadrilha. Na prática, o tempo que passar agora recluso, mesmo que somente à noite, será "abatido" da sentença final.

É com essa análise que o Planalto e a cúpula do PT argumentam que a decisão do Supremo pela prisão antecipada acabará beneficiando os réus e poupando Dilma de constrangimentos.

Em público, porém, a ordem é evitar comentários sobre o assunto, como o próprio Lula deixou claro ontem. "Como eu posso ter uma opinião sobre uma decisão da Suprema Corte, gente? Não tem sentido", afirmou aos jornalistas, ao ser questionado se a execução antecipada da pena seria injusta.

Em conversas reservadas, porém, Dilma sempre lamenta a situação de Genoino. Para ela, o deputado só foi condenado por ser presidente do PT na época do escândalo. Ele ainda se recupera de uma cirurgia para corrigir uma dissecção de aorta e está de licença médica da Câmara.

Troca. A reforma ministerial, as brigas com o PMDB e a formação dos palanques de Dilma nos Estados também fizeram parte do cardápio do almoço. Doze ministros devem deixar os cargos para se candidatar e a presidente pretende fazer as substituições até janeiro.

O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) é um nome cotado para voltar à Esplanada e pode ocupar o Ministério das Comunicações. Ele foi ministro do Trabalho e da Previdência de Lula.

Recém-filiado ao PMDB mineiro, o empresário Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, é hoje um curinga. Ele tanto pode ir para o Ministério do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel (PT) - que vai disputar o governo de Minas -, como é opção para a vice na chapa petista.