‘Fez, faz, fará’ tenta garantir reeleição da presidente

O mote apareceu no programa petista de TV, que foi ao ar há dez dias, e tem sido "esmiuçado" em reuniões promovidas pelo ex-presidente Lula em São Paulo

3 NOV 2013 • POR • 11h23

A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição tentará vender a ideia de que o governo do PT "fez, faz e fará" o Brasil avançar. O mote apareceu no programa petista de TV, que foi ao ar há dez dias, e tem sido "esmiuçado" em reuniões promovidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo.

Nos bastidores do partido, o plano está sendo chamado de "Mais Lula", numa referência ao lançamento do programa Mais Médicos. Sob encomenda do ex-presidente, economistas da confiança dele e de Dilma avaliam, por exemplo, como retomar e acelerar o crescimento sem estimular a alta da inflação e criando empregos de qualidade.

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A plataforma da reeleição está sendo preparada para construir a narrativa de "uma nova etapa". O novo papel do Estado e dos serviços públicos, a reforma urbana pós-protestos de junho e metas concretas para investir o dinheiro do pré-sal do campo de Libra em educação e saúde são temas que terão destaque no programa de Dilma para um eventual segundo mandato, além da questão econômica.

Empenhado em desconstruir críticas de adversários de Dilma, como o senador Aécio Neves (PSDB), a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para quem é preciso "fazer mais e bem feito", Lula já dá pistas do discurso da reeleição.

"O povo foi para a rua exigir um pouco mais do Estado, para dizer que precisa de mais coisas, porque ele aprendeu a comer contrafilé e não quer voltar a comer acém. Quer comer agora filé de verdade. Ele quer o emprego, mas não quer mais um emprego qualquer. Ele quer estudar, mas em escolas de qualidade", afirmou o ex-presidente na terça-feira, em Brasília.

Dono de uma popularidade de 80%, Lula percorrerá o País e subirá no palanque para vender ao eleitor aquilo que os petistas chamam de "continuidade criativa". O plano é anunciar "mais e melhores" serviços do Estado, mas a presidente ainda está em busca de uma marca de governo para chamar de sua.

Campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição tentará vender a ideia de que o PT

‘Tem mais o quê?’

Dilma também reforçou a agenda de viagens e vai agora investir no Nordeste. Em meados deste mês, ela visitará as atrasadas obras de transposição do Rio São Francisco. Vendido como "prioridade" de Dilma, o projeto deveria ter sido concluído no ano passado, mas enfrenta sucessivos adiamentos e é alvo de fortes críticas do PSB e do PSDB. O custo da transposição, que prevê distribuição de água em 390 municípios do Nordeste, foi inicialmente estimado em R$ 4 bilhões, mas hoje supera R$ 8 bilhões.

A estratégia para recuperar a imagem de gestora de Dilma, desgastada desde os protestos de junho, é traçada por pesquisas feitas sob encomenda do Instituto Lula, do Vox Populi e do marqueteiro João Santana.

Em recente sondagem sobre os programas do governo, os entrevistados elogiaram o ProUni e o financiamento escolar. Mas a pergunta que deixou dirigentes do PT intrigados foi singela: "E além disso tem mais o quê?" A reação ocorreu em pesquisa quantitativa, que mede o humor dos eleitores. Depois do Mais Médicos, está em estudo no governo a ampliação da escola em tempo integral.

"Lula faz sombra para Dilma no Planalto", provocou Aécio, dois dias depois de comentários do ex-presidente, para quem o tucano e Marina também são "sombras" em seus respectivos partidos. Em Brasília, Lula procurou apaziguar divergências com o PMDB e conversou com Dilma sobre a reforma ministerial de janeiro de 2014.

"Enquanto os outros brigam como cão e gato, um tentando desfazer o que o outro faz, ele joga em todas as posições do campo", defendeu o senador Jorge Viana (PT-AC). "A Marina não é sombra. É uma árvore. Só que a visão ecológica dela não combina com o choque de gestão do Eduardo", disse o governador do Rio Grande do Sul e ex-presidente do PT, Tarso Genro.

Ajuste fiscal

Às vésperas de um ano eleitoral, sem disposição para reduzir gastos, déficit recorde nas contas públicas e uma tempestade à vista no cenário internacional, a equipe de Dilma também está preocupada em dissipar a desconfiança do mercado nos rumos da economia. Uma das propostas em estudo prevê um programa fiscal de longo prazo para o período 2015-2018.

Na função de "ouvidor-geral" do Palácio do Planalto, Lula faz reuniões periódicas, geralmente quinzenais, com empresários, banqueiros, investidores e representantes de multinacionais no Brasil. Nesses encontros, escuta sugestões e queixas de empresários, petistas e aliados de todos os partidos, do PMDB ao PC do B, sobre o estilo Dilma. As reclamações também atingem o secretário do Tesouro, Arno Augustin, que esteve por trás de todos os pacotes de concessões e é visto pelo mercado como um intervencionista contumaz.

Em agosto, o ex-presidente chamou Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e desafeto de Augustin, para o núcleo de conselheiros do Instituto Lula.

O grupo de economistas que se reúne com Lula e faz relatórios com propostas para o Brasil é composto, ainda, por Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, Luiz Gonzaga Belluzzo, Delfim Neto, Glauco Arbix e Jorge Mattoso. Os ex-ministros Antonio Palocci, que caiu após denúncias de multiplicação do patrimônio, e Franklin Martins, além de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, também compõem o time.