Greve dos Bancários leva clientes a pagar mais por empréstimo

O saldo de operações com cheque especial, por exemplo, cresceu 4,3%, maior expansão entre as modalidades disponíveis para os consumidores

29 OUT 2013 • POR • 20h14

Ao se depararem no mês passado com os bancos fechados por causa da greve, os correntistas dos bancos acabaram apelando para modalidades mas caras de crédito, apontam dados divulgados nesta terça-feira, 29, pelo Banco Central.

O saldo de operações com cheque especial, por exemplo, cresceu 4,3%, maior expansão entre as modalidades disponíveis para os consumidores. O rotativo do cartão, no qual entram saques e faturas que não foram pagas na data, teve o segundo maior crescimento, de 2,8%. Nos meses anteriores, essas linhas vinham crescendo a uma taxa mensal de 1%.

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Os números mostram também que, em setembro, a taxa de juros do crédito livre subiu pelo quarto mês seguido, para 37,2% ao ano, maior porcentual em 17 meses. Esse movimento reflete a elevação da taxa de juros básica da economia, a Selic, para 9,5% ao ano. As taxas podem ter sido influenciadas também pelo fato de os clientes haverem contratados empréstimos mais caros.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que a greve reforçou uma tendência que já era observada, a do crescimento moderado do crédito. Em setembro, o saldo das operações de crédito aumentou 0,8%, o que é uma taxa menor do que a observada em meses anteriores. "É uma expansão moderada, em ambiente de estabilidade de inadimplência e de elevação das taxas de juros, em linha com o ciclo de aperto monetário."

Ele reconheceu, também, que os clientes tiveram mais dificuldade de acessar as linhas de crédito com juros mais baixos, como o consignado e o imobiliário. A contratação desses empréstimos dependem da ida das pessoas aos bancos. Essas duas linhas apresentaram um desempenho abaixo do padrão em setembro.

Inadimplência

A inadimplência voltou a subir, de 3,2% para 3,3%, depois de cair por três meses seguidos, mas ainda está nos menores patamares em três anos. "Essa melhora reflete o crescimento da renda, a consciência em termos financeiros. E, por parte dos bancos, houve um aprendizado, com maior seletividade na concessão e mais critérios em termos de garantia e seleção do cliente", disse Maciel.

Em tese, o mês de outubro poderá apresentar os mesmos reflexos, uma vez que a greve se estendeu até o dia 11. Maciel afirmou, no entanto, que existe a possibilidade de que os consumidores estejam correndo para regularizar a situação neste fim de mês, o que pode minimizar o impacto da greve sobre os dados do mês.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo, afirmou que a greve não é a principal explicação para a alta dos juros e a desaceleração do crédito. "Nem todas as transações eletrônicas, na internet ou nos caixas, são exclusivamente para cheque especial", comentou.

Para o líder sindical, um fator que pode ter pesado nos dados do mês passado é a intenção dos bancos públicos de tirar o pé do acelerador na oferta de crédito. Araújo argumentou também que, com a trajetória de aperto monetário iniciado em abril, não há interesse por parte das instituições, privadas ou públicas, de oferecem empréstimos mais em conta.

Para a economista da Tendências Consultoria Integrada Mariana Oliveira, o aumento da participação do crédito mais caro no total respondeu por uma parte menor, cerca de 20%, do aumento dos juros para o consumidor no mês passado. A maior parte da alta, portanto, está relacionada à alta promovida pelos bancos em praticamente todas as linhas. "Linhas que estruturalmente possuem taxas de juros menores também registraram aumento na taxa de agosto para setembro."