Desemprego sobe a 5,4% em setembro, mas renda melhora

No mesmo mês do ano passado, a taxa de desemprego também ficou em 5,4%, o que reforça a ideia de que 2013 tem sido semelhante a 2012

24 OUT 2013 • POR • 20h01

Rompendo o ritmo de queda dos últimos dois meses, a taxa de desemprego subiu para 5,4% em setembro, resultado superior aos 5,3% de agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A leve redução no número de pessoas empregadas, associada ao avanço na população de desocupados, provocou a alta no indicador. A despeito do cenário positivo mostrado por outras fontes de dados sobre emprego, a pesquisa do IBGE reflete um mercado de trabalho incapaz de criar novas vagas.

"Não temos geração de postos de trabalho em nenhuma das regiões. Em muitos casos, a desocupação começa a avançar", afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do instituto, Cimar Azeredo Em setembro, o número de ocupados caiu 0,1% ante agosto, o que significa 31 mil empregados a menos nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. Já os desocupados cresceram 2,5% em igual período (33 mil pessoas a mais). Para o IBGE, os resultados mostram estabilidade.

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Em setembro do ano passado, a taxa de desemprego também ficou em 5,4%, o que reforça a ideia de que 2013 tem sido semelhante a 2012. "O movimento em termos de mercado de trabalho é o mesmo", afirmou Azeredo. As taxas dos meses de agosto, em ambos os anos, também foram idênticas (5,3%).

Se a semelhança persistisse, seria possível esperar desemprego menor até o fim do ano, uma vez que a taxa de desocupação teve forte desaceleração no último trimestre de 2012, chegando a 4,6% em dezembro. Mas a economista e sócia da Gibraltar Consulting, Zeina Latif, avalia que a tendência é oposta. "Isso se deve ao fato de o enfraquecimento econômico já se mostrar mais disseminado entre os diversos segmentos." A previsão é que o desemprego aumente, mesmo em um período em que costumam surgir mais vagas temporárias, observou Zeina.

O superintendente de Tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), Daniel Luis Moreli Rocha, também antevê ampliação do desemprego e espera para 2013 o pior resultado em criação de postos de trabalho dos últimos oito anos. O avanço da taxa só não foi maior porque o número de pessoas ocupadas ou buscando emprego ficou estagnada na comparação com igual mês do ano passado.

Por atividade, indústria, construção, serviços e administração pública tiveram avanço no emprego, tanto em relação a agosto quanto a setembro de 2012. Na contramão, comércio e serviços domésticos registraram queda nas duas comparações. "Pode ser um movimento de migração para outras atividades", avaliou Azeredo, do IBGE.

Houve também avanço no emprego com carteira assinada no setor privado. O número de empregados formais é 1% maior que em agosto e 3,5% superior ao nível de setembro de 2012. Enquanto isso, o número de empregados sem carteira caiu 2% ante agosto e recuou 10,2% contra setembro do ano passado.

Renda

A desaceleração da inflação permitiu que o rendimento médio real do trabalhador ultrapassasse a barreira dos R$ 1,9 mil pela primeira vez na história da pesquisa, apurada pelo IBGE desde março de 2002. Em setembro, o valor recebido habitualmente pelos trabalhadores chegou a R$ 1.908 em média, o maior já registrado e 1% superior ao observado em agosto.

Ainda assim, a alta nos preços no mês passado impediu avanço mais intenso. Sem a inflação, a alta teria chegado a 1,33%, calculou Azeredo. Em 12 meses até setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial de inflação, ficou em 5,86% - pela primeira vez no ano abaixo de 6%.

"Atividade um pouco mais fraca com inflação elevada tem dificultado maiores ganhos reais nas negociações coletivas de salário. O ganho real deve ficar ao redor de 2% em 2013", estimou Rocha, do BI&P. Foi o segundo mês consecutivo de evolução no rendimento médio, após cinco quedas seguidas.

Para o economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, o mercado de trabalho continua apertado (com oferta de mão de obra crescendo no mesmo ritmo da demanda), o que abre espaço para novos ganhos nos rendimentos e, por tabela, estimula a inflação. "É uma situação que ainda impulsiona o consumo de alguma maneira e pressiona a inflação de serviços, a mais sensível a essa dinâmica favorável do mercado de trabalho", avaliou.