ONU divulga cenário alarmante da crise climática no Brasil

Novo relatório do IPCC mostra que desastres ambientais serão cada vez mais frequentes nos biomas brasileiros

9 AGO 2021 • POR • 16h44
Fatores como o desmatamento e os efeitos das mudanças climáticas influenciam negativamente o bioma - Felipe Werneck/Ibama.

Por Gustavo S. Cavalcante

O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC) foi apresentado nesta segunda-feira (9), e trouxe um panorama preocupante sobre as mudanças climáticas no mundo. O documento aponta que a chamada Monção Sul-americana afetará a produção agrícola no Brasil - um dos pilares da economia do país.

No atual cenário em que o planeta aqueceu 1°C na média, desastres ambientais que ocorriam uma vez por década passarão a ocorrer 1,3 vezes mais no caso de fortes tempestades, tendo um aumento de 30,2% do volume de água no pior cenário para a década. Um fato alarmante para cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro que já sofrem com inundações frequentes.

O documento também aponta para o cenário de secas prolongadas que podem ser até 4 vezes mais presentes no período de 10 anos. No Brasil, o problema se tornaria ainda pior no nordeste, centro-oeste e norte do país.

Cerrado

A região do Cerrado é fonte de 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Com o desmatamento contínuo as chuvas têm diminuído e o aumento da temperatura local põe em risco a vegetação remanescente e a produção alimentícia. No cenário nacional, a mudança climática na região já foi sentida em dois casos. Em 2020, por exemplo, a estiagem atrapalhou o plantio de soja. Já neste ano, o problema põe à vista um racionamento energético.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indica que, entre agosto de 2020 e julho de 2021, 5.102 km² do cerrado foram desmatados. Um aumento de 24% em comparação a última pesquisa (2019-2020). Maranhão, Bahia e Tocantins lideram o ranking dos Estados com maior área desmatada.

Floresta Amazônica

A maior reserva florestal do mundo, importante foco de atuação como “filtro” de gases nocivos responsáveis pelo efeito estufa, já emite, em algumas áreas, mais dióxido de carbono do que é capaz de absorver. O dado foi levantado pela revista científica Nature, em um dossiê publicado em julho.

Fatores como o desmatamento e os efeitos das mudanças climáticas influenciam negativamente o bioma, o que chama atenção de pesquisadores do WRI Brasil (World Resources Institute) para que atitudes sejam revistas de modo a manter a produção sem o desmate.

“Os desmatamentos na Amazônia e em outros biomas brasileiros contribuem para o aquecimento do planeta e não beneficiam o país, seu povo e sua economia formal. A ciência e a história recente do país revelam claramente que podemos produzir mais e melhor sem desmatar, e que os biomas são fundamentais para a agricultura e para garantir a segurança hídrica e energética de nossas cidades", diz Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil, instituição de pesquisa que atua em mais de 60 países.

Centro-Oeste e Nordeste

Região já amplamente afetada pelas secas, pode ter uma situação ainda mais intensa num cenário de aquecimento global de 2°C. As projeções indicam o aumento da aridez local trazendo climas mais propícios para incêndios, o que deve impactar muito o ecossistema tornando-o nocivo para a saúde humana.

O IPCC ainda indica que, caso nada seja feito, o centro e o nordeste do país devem assistir até meados do século, um amplo aumento de secas prolongadas agrícolas e ecológicas, o que afetará toda a gama da economia local.