Artigo - Os endinheirados no espaço sideral

O ser humano tem ultrapassado limites cada vez mais distantes e complexos, e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e assustador

6 AGO 2021 • POR • 06h30
Silvio Sebastião Pinto, Analista Programador e Escritor - DIVULGAÇÃO

Por Silvio Sebastião Pinto

A história humana é uma saga de superações. No começo do século passado foi dada a largada para a conquista do monte Evereste, e desde então milhares de pessoas já foram lá, a quase 9 mil metros de altura, com o objetivo de superar seus limites e buscar sentido para a frágil existência. 

Não é diferente com a recente corrida para o espaço sideral. Três dos homens mais ricos do mundo, depois de verem suas metas terrenas alcançadas, resolveram se pôr em ambições que até pouco tempo pareciam histórias de outros mundos. Richard Branson, Jeff Bezos e Elon Musk construíram seus próprios foguetes e os dois primeiros já estiveram, há poucos dias, fora da órbita da Terra. O ser humano tem ultrapassado limites cada vez mais distantes e complexos, e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e assustador. E também nos remete a reflexões das mais diversas, das quais vou destacar apenas duas.

A primeira é que a ambição e a inventividade humanas estão dando a largada a uma nova era de conquistas, agora fora do planeta. A humanidade levou vários milênios para chegar à revolução industrial, quando pessoas foram substituídas por máquinas. Depois levou apenas dois séculos para chegar à revolução da internet, quando estamos substituindo pessoas por computadores. Agora, poucas décadas depois, estamos iniciando a revolução da mobilidade, quando vamos substituir o planeta inteiro por outro lugar ao sol. A meta desse pequeno grupo de bilionários é colonizar a lua e Marte. 

A minha avó não acreditava que o homem já foi à lua, mas isso nunca me incomodou, afinal ela era quase analfabeta. Mas, recentemente eu me dei conta de que existe mesmo um grupo de pessoas, teoricamente bem instruídas, que nem acreditam que a Terra é uma bola que fica girando no espaço, e isso me leva à segunda reflexão. Todo dia pilotos de aviões e navios se lançam em suas jornadas para circundar o planeta, usando tecnologias moderníssimas, e todas partindo do princípio da circunferência, da rotação e da translação do planeta, para se orientarem. Todo dia milhares de satélites fazem suas viagens ao redor do planeta, descrevendo rotas bem definidas, para gerar sinais de transmissão para aparelhos de TV, GPS, telefones e etc, e mesmo assim esses terraplanistas insistem que o mundo todo está num grande complô para esconder que, na verdade, a Terra é plana e fixa. 

Uma das delícias que esses bilionários estão indo saborear no espaço é a magnífica visão da curvatura do planeta. O pôr-do-sol é coisa para simples mortais, eles estão indo é para ver a olhos nus o fabuloso espetáculo da Terra girando bem diante deles, em toda a sua beleza e grandiosidade. Esses homens não estão indo lá em cima para descobrir se a Terra é uma bola que gira no espaço, estão indo é para vê-la girando. Sem essa certeza essa empreitada nem existiria. 

Tenho aprendido que a velocidade cada vez mais alucinante da corrida tecnológica tem essa característica de deixar pessoas para trás. Será que as nossas ambições estão no rumo certo?

* Silvio Sebastião Pinto, analista programador e escritor.