Artigo - Minha casa, minhas rédeas

Assim como o movimento da anti-vacina é um dos braços do movimento anti-ciência, o homeschooling é um dos braços do movimento anti-educação

25 JUL 2021 • POR • 06h31
Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor - DIVULGAÇÃO

Por Diego Monsalvo

Assim como o movimento da anti-vacina é um dos braços do movimento anti-ciência, o homeschooling é um dos braços do movimento anti-educação.

Em princípio, parece se tratar de algo inofensivo, de pouco ou nenhum efeito danoso ao coletivo ou, até mesmo, uma boa ideia para famílias que desejam educar seus filhos na segurança da própria casa. Não é assim. E aqui nem entro no mérito das discussões legais em torno do tema. Chamo à luz a questão fundamental que deve(ria) permear esse debate. O que é a educação (conceito, prática e finalidade) e o que é a escola (conceito, prática e finalidade). É claro que a discussão é muito ampla, mas com bom senso, podemos perceber os argumentos centrais em defesa do óbvio: a escola como meio privilegiado de humanização.

Uma das poucas certezas que temos na vida é que somos seres coletivos e sociáveis, ou seja, dependemos das produções e ideias coletivas, de tal forma que tudo aquilo que pensamos e fazemos é oriundo de uma troca social inteligente e mediada por sensações, vontades e afetos. 

Isso significa também que quando nos produzimos como humanidade, e isso é uma constância dos aprendizados das gerações passadas às futuras, buscamos meios para manter essa produção perene, isto é, organizada e estruturada dentro de ideias, práticas específicas e instituições coletivas que nos assegurem a continuidade da espécie na compreensão e criação de seus valores e conhecimentos.

No dizer do mundialmente importante filósofo brasileiro, o pernambucano Paulo Freire (1921-1997), a busca pela educação é coletiva. Sem dúvida, ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais em comunhão com outras consciências, caso contrário se faria de umas consciências, objetos de outras.

Um professor e uma professora, formados para conduzirem esse processo ao lado dos educandos, só podem obter êxito no cumprimento dessa tarefa num ambiente próprio para isso, a escola.

A escola deve ser por excelência o lugar das diferenças, do aprendizado teórico e prático do convívio humano, do face a face com o outro e as suas necessidades e habilidades, numa solidariedade entre todos os sujeitos do conhecimento.

Sob qualquer argumento, não podemos privar uma criança e um adolescente do convívio social e humanizador do aprendizado coletivo.

Se de fato quisermos melhorar nossa educação, lutemos para melhorar a escola e não para destruí-la como desejam aqueles que acreditam que a sociedade se limita ao seu condomínio.

* Diego Monsalvo, professor de filosofia e escritor