Nilton C. Tristão - Em 2022, urnavac contra o coronavoto

Entre desatinos e desvarios, ultrapassamos recentemente a marca dos 500 mil brasileiros vitimados com a perda da própria sobrevivência ao vírus que era desconhecido até meados do ano passado

21 JUN 2021 • POR • 13h56
Nilton César Tristão, cientista político - DIVULGAÇÃO

Entre desatinos e desvarios, ultrapassamos recentemente a marca dos 500 mil brasileiros vitimados com a perda da própria sobrevivência ao vírus que era desconhecido até meados do ano passado. A dúvida atroz reside na seguinte indagação: quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas? Todos aqueles que possuem o mínimo de empatia para com o bem-estar do próximo se faz semelhante questionamento. Dia após dia, essa situação nos converte em objeto de escárnio, indignação e perplexidade perante os olhares atentos do mundo afora.

Hoje, o Brasil conta com cerca 207 milhões de habitantes, ao passo que o restante dos quatorze países localizados na América do Sul totaliza a população estimada em quase 195 milhões, ou seja, proporções de 51% e 49% em quantidade de cidadãos natos. Contudo, nossa nação ostenta a média per capita de óbitos apenas abaixo da registrada no Peru, e caso esse membro andino fosse retirado da contabilidade, teríamos 223 mil falecimentos a mais do que toda a América do Sul espanhola e Guianas somadas. Inegável que algo de muito errado está acontecendo conosco.

Assim, por que defronte a tantas evidências aterrorizantes, uma parcela de indivíduos, que felizmente regridem progressivamente em tamanho, transformou-se em cúmplice de tal paranoia? Será que a pretensa conduta ilibada com o zelo no trato do erário público justificaria a validação dos discursos e manifestações de ódio? As eleições destinadas a reformar ou autenticar os mandatos a Presidente e Governadores em 2022 se avizinham, ao mesmo tempo em que os tolos úteis são instrumentalizados para a defesa do “voto auditável”, mera manobra inspirada no crepúsculo de Donald Trump e que nesse momento vem sendo recriada com a finalidade de deslegitimar o sufrágio universal e popular em solo tupiniquim diante da derrota eleitoral eminente de Messias.

Dadas as devidas proporções, o bolsonarismo recria os valores do massacre ocorrido em Ruanda em 1994, onde tutsis e hutus, vizinhos em irmandade, tornam-se inimigos viscerais sem qualquer motivação plausível. Entretanto, Jair inevitavelmente será vencido nas urnas em virtude de representar os impulsos primitivos básicos da psique humana; em outras palavras, Bolsonaro significa o que existe de pior e malévolo no interior de nosso âmago afetivo, uma vez que rompe com qualquer princípio de auspício misericordioso.

Imaginar a possibilidade de que milhares de famílias poderiam permanecer desfrutando da presença de seus entes queridos - caso as teses esdrúxulas de tratamento precoce à base de hidroxicloroquina e as estratégias de viabilizar a famigerada imunidade de rebanho não tivessem se tornado concepções ideológicas governamentais - são essencialmente repugnantes.

Portanto, não há outro caminho que cumpra as utopias civilizatórias que não seja o de obstaculizar democraticamente Jair Bolsonaro, dado que essa circunstância necessita ser encarada enquanto compromisso etéreo e impreterível com a memória daqueles que nos deixaram, atingidos pela insanidade profana do falso vaticinador. Em síntese, não podemos acreditar que o combate aos desvios éticos e a preservação da existência corpórea encontram-se em patamares de importância similar.

Todavia, como diria Lázaro de Souza Gomes: “A beleza da vida não reside na ausência de problemas, mas sim na nossa acurácia em resolvê-los!”. Dessa maneira, vamos arregaçar as mangas, pois há bagunça em excesso para ser colocada em ordem e não permitiremos que a liberdade caia por terra aos pés de um filme de Jean-Luc Godard (Paralamas do Sucesso).

* Nilton César Tristão, cientista político