Artigo - Racismo global

No globo terrestre existem 2755 pessoas que são bilionárias e, desta casta, somente 14 são negras, segundo levantamento da Forbes

5 JUN 2021 • POR • 08h00
Célio Dias Sales, Advogado e Presidente do Nurex - DIVULGAÇÃO

Por Célio Dias Sales

No globo terrestre existem 2755 pessoas que são bilionárias e, desta casta, somente 14 são negras, segundo levantamento da Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. E esse número já foi menor porque há dez anos atrás, de 1210 bilionários, apenas seis afrodescendentes tinham patrimônio acima de um bilhão. O negro mais rico do mundo, o nigeriano Aliko Dangote, empresário do ramo do cimento e açúcar, acumula a cifra de 11 bilhões de dólares e ocupa a 191ª posição do ranking dos mais afortunados, enquanto o líder atual Jeff Bezos, da Amazon, tem a sua fortuna avaliada em 198 bilhões de dólares, ou seja, os números não mentem, não enganam, são frios e exatos no sentido de que apenas 0,5% dos negros estão no seleto grupo dos bilionários e, ainda assim, o mais rico deles tem riqueza 94% menor que a do Jeff Bezos, ou, o que é pior, se somadas as fortunas dos 14 bilionários negros, elas não chegam ao valor total do Jeff.

E o que, de fato, esses números e percentuais representam? A resposta é simples: há algo de muito errado no nosso planeta! Dar de ombros a essas constatações é o mesmo que ignorar algo latente e flagrante neste dileto microcosmos (universo dos bilionários) que reflete no macro sistema da desigualdade social e racial. Se procurarmos na lista constataremos que não existe nenhum brasileiro, de origem negra, no clube do bilhão.

Indo além, se estreitarmos mais ainda a visão e olharmos para nossos jovens filhos, na fase escolar, perceberemos que há poucos ou, por muitas das vezes, nenhum coleguinha negro na sala de aula. Agora se virarmos nosso foco para as portas das escolas públicas e periféricas chegaremos à conclusão de que há uma esmagadora maioria de afrodescendentes seguindo um estudo precário e menos estruturado do que o fornecido nas escolas particulares.

Sabemos que é utópico pensar que todos devem ter as mesmas chances e oportunidades, até porque esse ranking demonstra o quanto o nosso mundo é racista, onde apenas 14 abnegados conseguiram chegar no mais elevado patamar da riqueza humana, gerando empregos, pagando impostos e, com certeza, vencendo todas as vicissitudes possíveis e inimagináveis em relação a própria cor da pele para chegar aonde chegaram. Contudo, vou me ater ao copo meio cheio e entender que de 2011 para cá os bilionários passaram de 6 para 14 pessoas, ou seja, foi a década da virada, que fez mais do que dobrar o número de negros na referida lista.

Desta forma, apesar de vivermos em um mundo comprovadamente divorciado do olhar humanizado, há esperança de que a tão almejada igualdade de oportunidades em educação seja a tônica dos futuros gestores públicos deste planeta. Não me conformo com essa miopia coletiva em relação a tão grave constatação de desigualdade; ao mesmo tempo, acredito que se todos fizermos a nossa parte, exigindo dos nossos governantes as políticas públicas – e não populistas – voltadas a educação, teremos como reparar o descaso de séculos e mais séculos de injustiça!

* Célio Dias Sales, Advogado e Presidente do Nurex