Manobra para agradar caminhoneiros vai aumentar (ainda mais) o preço das carnes

Tendência é que essa escalada no preço das carnes se acentue nas próximas semanas

18 ABR 2021 • POR • 08h09
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Por: Nilson Regalado

O preço do boi gordo, do suíno e do frango não para de subir. As justificativas são várias e diferem de acordo com a fonte: falta de chuvas, real desvalorizado frente ao dólar, vendas para o exterior aquecidas, disparada no custo das rações, alta no valor dos animais juvenis adquiridos para engorda nas fazendas e granjas...

E a tendência é que essa escalada no preço das carnes se acentue nas próximas semanas. O novo fator de pressão inflacionária nos alimentos é a redução no percentual de biodiesel adicionado ao diesel fóssil. A medida foi anunciada no último dia 9 e a ideia do Governo Bolsonaro era diminuir a influência do óleo de soja no preço do combustível de ônibus e caminhões.
O óleo de soja é a principal matéria-prima do biodiesel, e registrou alta de 90% nos últimos 12 meses, mesmo com a safra recorde do grão em 2020. O óleo representa mais de 70% da composição do biocombustível, o resto é sebo bovino. Até o dia 9, o diesel vendido nos postos tinha 13% de biodiesel em sua fórmula. Agora, terá apenas 10%.

O problema é que, sem refinar a soja, o grão acabará exportado in natura para Ásia e Europa. E, sem beneficiar a soja na indústria, não há farelo. Sem farelo, produtores de aves, suínos e bovinos terão de recorrer a outras matérias-primas (mais caras) para alimentar seus animais.

A expectativa é que 650 mil toneladas de óleo de soja deixem de ser produzidas neste ano, caso a redução no percentual de biodiesel continue. E isso também terá impacto no mercado de trabalho, com redução de empregos nas biorrefinarias.

Em nota conjunta divulgada nesta semana, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene criticaram a decisão do Governo Bolsonaro e reivindicaram seu cancelamento.

Viva a vida!
Divulgado há dez dias pela Empresa de Pesquisa Energética, o estudo ‘Impacto na saúde humana pelo uso de biocombustíveis’ concluiu que o etanol evita ao menos 371 mortes por ano na Região Metropolitana de SP. O biocombustível reduz a concentração de material particulado fino (MP 2,5) no ar. O poluente penetra nos pontos mais profundos do pulmão, causa inflamações, danos agudos ao sistema circulatório, altera o ritmo cardíaco e provoca isquemias. O MP 2,5 é produzido pela queima de combustíveis fósseis como gasolina e diesel.

Retenciones
O governo de Alberto Fernández ameaçou nesta semana “fechar” as exportações de carne até que os preços baixem na Argentina. A política de retenção de alimentos, que limita exportações para evitar a escalada dos preços no mercado interno, foi a marca do governo de Cristina Kirchner (2007/2015), mas desagradou profundamente a elite rural. Cristina atualmente é a vice-presidente de Fernández.

Filosofia do campo:
“Os poderosos podem matar uma, duas, três flores, mas jamais deterão a primavera”, Ernesto (Che) Guevara (1928/1967), médico argentino.