Morte do menino Henry traz outra lembrança macabra para o brasileiro: o caso Nardoni

Há 13 anos, Isabella, então com 5 anos foi morta pelo próprio pai e pela madrasta. Especialista dá dicas para reconhecer quando uma criança precisa de ajuda

15 ABR 2021 • POR • 16h00
Condenado a 31 anos de prisão, Alexandre se encontra atualmente no regime semiaberto na penitenciária de Tremembé - DIEGO PADGURSCHI/FOLHAPRESS

Há um mês, o Brasil acompanha em choque as notícias sobre a morte do menino Henry Borel, vítima de uma série de agressões. O padrasto do garoto, o vereador carioca Dr. Jairinho, e a mãe da criança, Monique Medeiros, estão presos, suspeitos do crime.

As circunstâncias da morte do garoto, de 4 anos, fizeram com que muitos brasileiros relembrassem outros casos de comoção nacional, como o assassinato da pequena Isabella Nardoni aos 5 anos.

Segundo estatísticas do Google Trends (ferramenta do Google que mostra os termos mais buscados), desde 28 de março, o nome Nardoni registrou um aumento repentino nas buscas. O mesmo ocorreu com o nome Alexandre Nardoni, pai da menina, com aumento de 160%, e sobre o instagram de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, com alta superior a 250%.

A própria Ana Carolina viu semelhanças na morte da filha com a de Henry Borel. Em entrevista à revista Piauí, ela disse que enviou uma mensagem de solidariedade para Leniel Borel, pai de Henry. “Eu estou muito tocada pela brutalidade e pelas coincidências com o que vivi. Esse tipo de crime você jamais imagina que vai acontecer em sua família (...). Sabe o que é mais dolorido? Eu e Leniel entregamos os nossos filhos para quem deveria cuidar e zelar. Entregar um filho para nunca mais voltar é o que mais machuca, revolta”, declarou Ana Carolina na entrevista.

O caso Isabella Nardoni

O caso da menina Isabella Nardoni, então com 5 anos, começou a ganhar as manchetes de todo o Brasil no fim de março de 2008. No domingo, 29 de março, pouco antes da meia noite, um barulho forte chamou a atenção do porteiro do Edifício London, na zona Norte de São Paulo, era o corpo de Isabella, que aterrissara no gramado do condomínio.

Isabella estava no local passando o final de semana com o pai, Alexandre Nardoni, a madrasta Anna Carolina Jatobá, e os dois irmãos mais novos por parte de pai. No dia do crime, a família chegou ao condomínio por volta das 23h10, Alexandre alegou ter subido com a filha para o apartamento, no sexto andar, e descido novamente para ajudar a esposa com os outros dois filhos. Neste meio tempo, a grade de proteção do quarto onde dormia Isabella teria sido cortada e a garota jogada pela janela.

A polícia chegou a investigar se alguém teria entrado no imóvel. Porém, não havia sinais de arrombamento na residência. Dias depois, o pai e a madrasta da garota passaram a ser os principais suspeitos do crime. A prisão preventiva do casal foi decretada em abril daquele ano. Em 2010, eles foram a júri popular e condenados pelo assassinato da criança.

Segundo as investigações, Jatobá feriu a menina com uma chave e a esganou. Inconsciente, Isabella foi jogada através da janela pelo próprio pai.

Condenado a 31 anos de prisão, Alexandre se encontra atualmente no regime semiaberto na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Anna Carolina Jatobá, condenada a 26 anos de reclusão, está no regime fechado. Ela também está presa no complexo prisional de Tremembé e, assim como Alexandre, estava no regime semiaberto. Porém, no ano passado, ela voltou a o regime fechado, após ser flagrada falando com os filhos por videochamada, quando deveria estar conversando com o advogado.

Algo está errado

Na época da morte de Isabella, a mãe da menina disse em depoimento que a madrasta tinha ciúmes da filha. Na última terça-feira (13), a babá de Henry, Thayná Oliveira Ferreira, contou à polícia que o menino vinha sofrendo repetidas agressões do vereador.

Para Luiza Teixeira, especialista em proteção à criança do UNICEF no Brasil, é preciso compreender que as violências contra crianças e adolescentes podem tomar diversas formas. “Há violência física, psicológica, sexual, institucional, mas também o abandono e a negligência. Ou seja, xingar, humilhar, aplicar castigos físicos, deixar de cuidar, e desrespeitar a sexualidade de crianças e adolescentes são formas de violência e são proibidas por lei.”

Teixeira alerta que lesões e outros machucados sem explicação clara, dores repentinas, gravidez na adolescência, e doenças sexualmente transmissíveis são sinais evidentes de violência. Porém, nem toda violência deixa vestígios, o que torna essencial prestar atenção às mudanças de comportamento. “Alguns exemplos que podem indicar que algo está errado são medo de adultos conhecidos; medo de ficar sozinho ou ser deixado próximo ao/à potencial agressor(a); fuga de casa ou evasão escolar; mudanças bruscas de comportamento ou de humor sem explicação aparente; comportamentos regressivos e/ou agressivos; sonolência excessiva; perda ou excesso de apetite; comportamentos sexuais inadequados para a idade; e busca de isolamento.”

Ao desconfiar de que há algo errado com uma criança e adolescente é possível acionar o Conselho Tutelar mais próximo, ligar no Disque 100, procurar a polícia, ou acessar o aplicativo Direitos Humanos Brasil.