Artigo - Capaz de tudo e incapaz

2 ABR 2021 • POR • 10h10
Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor - DIVULGAÇÃO

Por Francisco Marcelino

O presidente Jair Bolsonaro é contra o confinamento, como sabemos. No entanto, um dos únicos confinados do país é o próprio presidente Bolsonaro. Ele está confinado com os filhos e o que sobrou da turma de cúmplices da quinta série (perdão, crianças, pela comparação) no Palácio do Planalto. Não se sabe por quanto tempo. 

Na escola Presidente Jair Bolsonaro, a quinta série (perdão, crianças, novamente) não tem diretor (a), professor (a) ou bedel. Nessa turma da quinta série (terceiro perdão), os repentes de autoritarismo tentam deturpar o que a ditadura militar fez: assassinou brasileiros e estrangeiros, impediu a investigação de atos de corrupção, instituiu a censura, cassou os direitos políticos de parlamentares eleitos legitimamente. Os militares só devolveram o poder aos civis quando viram que não sabiam o que fazer com a inflação e a dívida externa, que nos açoitava dia e noite. 

O paralelo entre 1985, quando os militares deixaram o poder, e hoje é necessário. Os civis levaram quase uma década para domar a hiperinflação deixada pelo governo militar. Só em 1994, com a criação do real após a adoção de um punhado de planos econômicos fracassados, é que nos libertamos da hiperinflação. A dívida externa demorou mais, cerca de 20 anos. Mas esse trabalho hercúleo é quase nada se comparado ao que civis terão que realizar uma vez que a turma da quinta série (quarto perdão) deixar o Planalto. 

Além de inflação e desemprego, o governo militar de Bolsonaro deixará um legado de perseguição a opositores, desmatamento e queimadas, uma política externa alinhada ao obscurantismo e, o pior, milhares de mortes por covid-19. Mortes que poderiam ter sido evitadas com vacinas, medidas de isolamento, uso de máscaras e informação. O presidente boicotou o isolamento e o uso de máscara, negou-se a assinar contratos para compra de vacinas e desinformou a população ao “prescrever” drogas para tratar a covid.

Desculpem-me o trocadilho, mas Bolsonaro é capaz de tudo, da mesma forma que é incapaz.  Acuado, ameaça a sociedade com um golpe, pois alega que o judiciário, legislativo, governadores e prefeitos o impedem de governar. Ainda bem. Sem isso, nem posso imaginar qual seria o tamanho dessa pandemia.  

Não por menos há um movimento ganhando asas no Brasil: desligar. Simplesmente assim, desligar a televisão ao escutar as sandices de Bolsonaro, o presidente confinado. Esquecer o celular em algum canto depois de receber uma notícia ruim qualquer. Desligar desse inferno de anúncios diários desencontrados vindos de Brasília.

Para mim, bastava apenas desligar uma coisa: Bolsonaro. Na verdade, quem deveria fazer isso é quem encomendou Bolsonaro e sabe onde está o controle remoto. Da próxima vez, é melhor ler o manual de instruções antes de tirar a encomenda da caixa.  

Francisco Marcelino, jornalista, escritor e professor