Mais de 4 milhões ainda não tem coleta de esgoto no Estado

Apesar de São Paulo possuir bons índices quando o assunto é saneamento básico, ainda restam grandes desafios, diz especialista

31 OUT 2020 • POR • 08h25
A consequência deste cenário é que, nas localidades com problemas de saneamento, sobretudo de coleta e tratamento, há um número maior de internações por doenças associadas à falta de saneamento - Thiago Neme/Gazeta de S.Paulo

Entre os dias 26 e 30 de outubro, São Paulo sediou o Brazil Water Week, o mais importante evento internacional sobre água realizado no Brasil. Na abertura, o governador João Doria (PSDB) enalteceu os bons números do Estado quando o assunto é saneamento. Contudo, mais de 4 milhões de pessoas ainda não possuem coleta de esgoto no estado mais rico do País, o que equivale, segundo números do Instituto Trata Brasil, a 10,2% da população.

“Ainda existem muitos municípios que possuem baixos indicadores de coleta e tratamento de esgoto, tanto na região metropolitana, quanto no interior do Estado. Obviamente, há cidades com índices excelentes, como Franca, Santos, entre outros, mas ainda há desafios, como em algumas localidades da zona rural, algumas favelas e áreas invadidas”, explica o presidente do Instituto Trata Brasil, Edison Carlos.

Em sua fala na abertura da Brazil Water Week, Doria destacou que “o Governo de São Paulo possui a terceira maior empresa de saneamento do mundo, a Sabesp, fazendo com que o Estado de São Paulo seja a região com os melhores índices de abastecimento de água do país”. Apesar disso, lembra Edison Carlos, mesmo que a maior parte da população tenha acesso a água potável e que “90% das pessoas do estado de São Paulo tenham acesso à coleta, somente 65% do esgoto é tratado.”

A consequência deste cenário é que, nas localidades com problemas de saneamento, sobretudo de coleta e tratamento, há um número maior de internações por doenças associadas à falta de saneamento, óbitos por doenças gastrointestinais, desvalorização dos imóveis, bem como há impactos significativos no turismo.

Perda de água potável
Em um cenário de pandemia, onde a principal orientação é lavar as mãos, a questão de perda de água potável se torna muito mais preocupante. Ainda conforme o Trata Brasil, o estado de São Paulo perde em torno de 34% de água potável, ou seja, a cada 100 litros de água, 34 litros não chegam para ninguém. “É uma perda alta para um estado como São Paulo”, alerta Edison Carlos.

Entre os 15 maiores municípios do estado, a perda de água potável varia de 14,3% em Santos a 55% em Ribeirão Preto, conforme tabela a seguir.

O que diz o Governo
Procurado, o Governo de São Paulo lembrou que a gestão do saneamento é de responsabilidade dos municípios, mas frisou que nas 375 cidades onde o governo paulista atua por meio da Sabesp, no quadriênio de 2020 a 2024 serão investidos R$ 20 bilhões, sendo R$ 8 bi em água e R$ 12 bi em coleta e tratamento de esgoto.

Na opinião de Edison Carlos para que o serviço melhore, tanto em São Paulo, como em todo o Brasil, é importante fortalecer as agências reguladoras para que elas fiscalizem o serviço e é necessário pressão popular para que o Marco do Saneamento seja cumprido e o Brasil caminhe para a universalização.