Artigo - Segunda onda

Não dá para baixar a guarda em lugar nenhum do planeta

19 SET 2020 • POR • 06h50
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Por Francisco Marcelino

A esperada segunda onda do coronavírus dá as caras na França. O número de novos casos está nos 13 mil por dia e são cerca de 800 pacientes entubados. Embora a taxa seja bem inferior àquela do pico da epidemia, em abril, quando havia mais de sete mil entubados, o ministro da Saúde, Olivier Véran, disse na quinta que a epidemia está muito “ativa”. Atualmente, cada doente contamina outras duas pessoas durante 15 dias. Segundo o ministro, o índice também é menor do que em abril, mas o vírus está atingindo mais e mais pessoas a partir dos 65 anos.

Como acontece no mundo inteiro, a epidemia se espalha com mais força em algumas regiões. O ministro pediu para as autoridades de Nice e Lyon adotarem medidas de controle. Na sexta, Nice proibiu encontros com mais de 10 pessoas. Marselha já tinha feito algo parecido na semana passada: a proibição de encontros de mais de 10 pessoas em parques e praias. É um golpe na farofa nas duas cidades litorâneas.

Era inevitável que isso acontecesse. Em julho, dois meses depois do fim do confinamento, em alguns locais, como supermercados, poucas pessoas usavam máscaras ou respeitavam o distanciamento de um metro. Quem usava era quase um alienígena. Muitos também se revoltaram contra a obrigatoriedade do uso da máscara. Outros usavam (e usam ainda) abaixo do nariz. 

Os jovens invadiram os parques para encontrar os amigos que não viam desde março. Todos próximos celebrando o sol. Pouco a pouco, medidas restritivas foram adotadas, como a obrigação de porte de máscara no comércio. Em agosto, semanas antes do início do ano letivo, várias cidades impuseram o uso de máscara nas áreas mais adensadas. Hoje, as máscaras são obrigatórias na maioria das cidades médias e grandes sem especificação de local. 

Na academia, vejo ainda alguns incrédulos dividindo aparelhos com desconhecidos. Todos sem máscara mesmo a multa sendo de 135 euros. A teimosia não tem nacionalidade.

Uma das grandes dificuldades que a França enfrenta na luta contra o vírus é a demora para marcar testes e obter os resultados. Com isso, os laboratórios estão priorizando os pacientes com pedido médico, aqueles com sintomas e o pessoal da saúde. Desde julho, qualquer um pode fazer o teste gratuitamente mesmo sem um pedido médico. A capacidade de testagem cresceu, mas a fila nos laboratórios cresceu mais rápido ainda. 

Em agosto, ao voltar de viagem, marquei um teste para o mesmo dia que liguei. No seguinte, já tinha o resultado negativo nas mãos. Na quarta, por questões de trabalho, fui tentar remarcar. Dos cinco centros de testes da minha região, quatro tinham vaga apenas dentro de uma semana. Em Paris, a demora é maior.

Ou seja, não dá para baixar a guarda em lugar nenhum do planeta, mesmo que seja necessário sacrificar a nossa santa farofa.

Francisco Marcelino, escritor, jornalista e cineasta