Pai artista cria série com filha de 4 anos

Impossibilitado de viajar com o teatro por conta da pandemia, Douglas Zanovelli passou a produzir podcasts com a filha

9 AGO 2020 • POR Caroline Souza • 11h51
Pai e filha enchem os balões de histórias e voam por rotas imaginárias em uma série em formato podcast. - DIVULGAÇÃO

Sempre na estrada, viajando com um teatro itinerante, o artista Douglas Zanovelli encontrava na tecnologia um meio de se aproximar da filha Mariana, de apenas 4 anos. Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, o cenário se inverteu. O caminhão, um contêiner-palco batizado de Caixola, deixou as estradas do Brasil, estacionou no quintal da casa do próprio artista e virou espaço de brincadeiras. Agora, os mesmos aplicativos que aproximavam pai e filha são usados para levar o projeto virtualmente para outras crianças. E Mariana, que desde a barriga da mãe acompanha a trupe em diversas viagens, ganhou personagem e virou integrante oficial do Teatro a Bordo.

Se o Caixola está preso na garagem, a 'Caixolinha' da Mariana, ou melhor, da Nana Coragem viaja pelos ares com os personagens. "Ela está acostumada com esse universo teatral. Nosso grupo é como uma família e a Mariana tem um carinho muito grande por todos. Para este trabalho, percebemos que ela faria parte quando estávamos gravando uma música e ela pegou o microfone para brincar e começou a falar e cantar com a gente", conta Douglas.

Ao término da brincadeira, os pais perceberam que aquela era a melhor gravação de todas. "Dividimos isso com o grupo e surgiu a ideia de contar essa história através da imaginação infantil, representada pela 'Caixolinha' da Nana Coragem, mas quem dá asas as viagens sãos as crianças. Asas não, balões que são mais leves que o ar".

O novo 'trabalho' de Mariana não exige nada além do brincar. "Vamos brincando de teatro e captando o que ela fala, depois faço um trabalho de decupagem e insiro meus diálogos por cima. Ela não decora texto, ela brinca e o resultado é bem espontâneo".

O projeto Teatro a Bordo sempre fez um trabalho voltado para as crianças e, mesmo em novo formato, isso não poderia ser diferente. "Pensamos em trazer um conteúdo em áudio que dialogasse com esse público, trazendo ludicidade e a possibilidade de viajar na imaginação, onde a criança completa a história da forma que quiser. A exposição em excesso às telas também nos motivou em optar pelo formato radioteatro, valorizando o ato de escutar. E a intenção é trazer uma realizada "paralela", blindando um pouco a criança das mazelas que esse momento traz, integrando a família e trazendo a reflexão sobre o cuidado com os filhos na quarentena, onde se misturou o ambiente casa com o trabalho".

Estar mais próximo da família, aliás, é para Douglas o lado bom nesse momento. "Percebemos que é possível sim estar em companhia mesmo à distância, o que é um grande aprendizado para nós e com certeza vamos continuar criando neste formato mesmo no pós-pandemia".

O trabalho, no entanto, não envolve apenas pai e filha, mas toda a 'família' Teatro a Bordo. "Somos em 14 pessoas trabalhando e descobrindo uma forma de manter nossa arte viva. Inclusive esse novo formato de trabalho é muito parecido com o presencial. Temos uma diretora comandando, tem a roteirista que participa da construção do texto e vai adaptando durante os ensaios e o elenco que vai gravando as cenas ao vivo, depois mandamos os áudios separados para o editor, que faz a mixagem de tudo e vira uma história".

Virtualmente, o Teatro a Bordo viajará por 24 cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul fazendo oficinas de Contação de Histórias, com apresentações de artistas locais por vídeo. Depois, as ideias criadas a partir das oficinas são transformadas no podcast Caixola de Histórias nos Ares. A trupe, que nasceu em Santos, lança nesta segunda-feira, a partir das 13h, o podcast da Cidade. O conteúdo pode ser conferido no site www.caixoladehistorias.com.br.

E neste Dia dos Pais, o presente de Douglas é estar junto à filha. "O que eu mais tento passar pra ela é que é mais importante o ser do que o ter. Quero ajudá-la a ser uma mulher forte, faço isso preservando a infância dela, para que ela se torne uma pessoa feliz, isso vai ser meu maior presente".