Especialistas avaliam os danos mentais à saúde causados pelo isolamento social

Cansaço mental da população com o isolamento e os cuidados sanitários para evitar a contaminação pelo coronavírus é cada vez mais evidente

2 JUL 2020 • POR • 10h10
Enquanto o coronavírus continuar por aí, devemos manter as precauções de higiene e evitar sair de casa - Kinga Cichewicz/Unsplash

Por Vanessa Zampronho

O isolamento social cansa, e não é um cansaço físico, mas sim mental. O não sair de casa para atividades simples, como fazer compras, visitar parentes e amigos, ou mesmo viajar causa uma espécie de 'fadiga' e traz aquela saudade do que podíamos fazer antes, sem a preocupação com o coronavírus.

"O corpo não é exigido na pandemia, mas a mente está sempre cansada", afirma o educador físico e neurocientista Alexandre H. Okano, pesquisador da Universidade Federal do ABC (UFABC). Como estamos muito tempo em casa sem usar tanto os músculos para as atividades do dia a dia - e nem estamos falando de exercícios físicos - eles não gastam muita energia como antes. Aí o cansaço é mais mental do que físico.

Foi o primeiro-ministro inglês Boris Johnson que trouxe a expressão 'fadiga de quarentena'. "A ideia é poupar 'energia' da população para que ela gaste essa energia no momento certo, nos picos de contaminação pelo coronavírus", explica Nara Lucia Botelho, psicóloga da BenCorp e ClubSaúde, e especializada em terapia cognitivo-comportamental e neuropsicologia.

É o que ela chama de 'tanque cheio': "No começo, temos energia para rodar muito, mas chega uma hora que o tanque vai esvaziando, e é quando vamos relaxando na manutenção dessas normas". O neurocientista cita também outro fator que causa essa fadiga. "Estamos muito mais tempo online, o tempo de tela aumentou drasticamente, tanto para quem está trabalhando ou quem tem filhos, que estão tendo aulas online. O tempo de tela também gera fadiga, e a gente não percebe".

Com o passar dos meses, mais e mais pessoas foram deixando de lado as recomendações sanitárias e passaram a sair mais de casa para atividades não essenciais - o que pode incentivar um relaxamento ainda maior no isolamento. "O reforço social é importante: enquanto está todo mundo engajado no processo eu também me engajo, mas se o outro não se sacrifica como eu estou me sacrificando, não vou me sacrificar", afirma a psicóloga Nara.

Junte-se a isso informações conflitantes de governos federal, estadual e municipal sobre a abertura ou não das atividades comerciais. "O governo poderia ter medidas mais sérias voltadas para preservar a vida das pessoas, para impor isolamento ou até mesmo lockdown", avalia Okano. "Deveria haver uma constância de informações pontuais, claras, para podemos nos apoiar em algo mais constante e manter as medidas de prevenção", afirma Nara.

Enquanto o coronavírus continuar por aí, devemos manter as precauções de higiene e evitar sair de casa. Mas podemos tomar algumas providências para diminuir a fadiga desse período.

"Pode-se fazer meditação, ou exercícios simples, como 'bicicleta' sentado no sofá, lavar roupa, fazer atividades domésticas, levantar-se para tomar água, ir à janela...isso manda mais oxigênio para o cérebro", aconselha o neurocientista.

Cada um vai descobrir a sua própria atividade mais prazerosa. "Não tem receita de bolo, cada um deve se aproximar daquilo que é dotado de um significado afetivo. Nessa pandemia, temos mais tempo para incluir essas atividades e tentar se aproximar de atividades para ter esse equilíbrio emocional", conclui a psicóloga Nara.

Reforço social

É quando fazemos algo ao ver alguém fazendo, e a quarentena é um exemplo muito recente. No começo, boa parte do comércio fechou e muita gente ficou em casa. Mas o tempo passou, o número de casos vem aumentando e parece que o 'sacrifício' de ficar em casa não tem valido a pena. É aí que alguns deixaram de lado o isolamento social e passaram a sair para a rua - o que pode estimular outras pessoas a fazer o mesmo. "Se o outro não se sacrifica como eu estou me sacrificando, não vou me sacrificar mais", explica a psicóloga Nara Lucia Botelho. Que tal dar um exemplo contrário - o de ficar em casa para evitar que o contágio continue aumentando?