Terrestre assume projeto de incinerador de lixo em Santos

Ela e Terracom compõem o mesmo grupo empresarial que forma o consórcio Valoriza Santos SPE Ltda, que contratou o EIV

11 JUN 2020 • POR • 10h11
Os engenheiros Antônio de Melo Neto e Pedro Stech contestaram os ambientalistas contrários à instalação da usina em Santos. - Nair Bueno/DL

A Terrestre, responsável pelo Centro de Gerenciamento de Resíduos de sete cidades da Baixada Santista, do mesmo grupo empresarial da Terracom, que cuida da limpeza urbana dos municípios, é que irá gerir a futura usina de incineração de resíduos sólidos, denominada Unidade de Recuperação de Energia, no Sítio das Neves, na área Continental de Santos. Ambas formam a Valoriza Santos SPE Ltda, que contratou o Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) para instalação da usina, anunciado pela Prefeitura de Santos.

O EIV está disponível no Portal Santos e o projeto, por ser privado, não dependerá de licitação pública. A Terrestre resolveu assumir a 'paternidade' do projeto após matéria veiculada há uma semana, com exclusividade pelo Diário, em que especialistas e ambientalistas questionam o projeto.

Ontem, no escritório da Terracom, os engenheiros Pedro Stech e Antônio de Melo Neto contestaram os ambientalistas. Disseram que a usina custará R$ 300 milhões e terá quatro módulos com capacidade de processamento de 500 toneladas cada, implantados em intervalos de seis meses, após a licença de instalação da Cetesb, que deve acorrer até julho de 2021. Os engenheiros garantem que o custo não vai onerar o bolso do contribuinte. Segundo eles, a usina produzirá apenas 10% de resíduo e vai, gradativamente, acabar com o aterro. "Também é um projeto diferente do que foi rejeitado em 2018. Nesse, o lixo será tratado e padronizado em processo mecânico-biológico antes da queima, para reduzir a umidade e poluentes atmosféricos, garantindo aumento da carga energética. Ele vai atender perfeitamente a legislação atual", garante Pedro Stech.

Melo acrescenta que a usina vai trabalhar só com o material de transbordo, portando, a coleta seletiva das cidades não será prejudicada. "Vamos trabalhar com o rejeito, portanto, não vai gerar desemprego", afirma. Hoje, as 15 cooperativas da Baixada são responsáveis por quase 500 trabalhadores.

Foi lembrado ainda pelos representantes que o projeto atende um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado com o Ministério Público (MP), que exigia praticamente o fim dos aterros sanitários.

Na Câmara de Santos, o vereador Chico Nogueira (PT) pediu, por requerimento, a convocação do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Santos (Consema) a prestar maiores esclarecimentos sobre as vantagens e desvantagens do futuro equipamento.

PETIÇÃO

Uma petição online colhe assinaturas contra a usina, capitaneada pela Organização Não-governamental (ONG) ECOPHALT, que alega perdas ambientais imensas e um grande problema social, pois privaria o sustento de trabalhadores das cooperativas de reciclagem de lixo. Também ressalta gases de efeito estufa; interrupção do ciclo de vida dos materiais secos recicláveis; não estimula a logística reversa das embalagens e outros produtos e gera produtos perigosos, entre outros problemas ambientais.

AMBIENTALISTAS

Na última semana, o diretor da Associação de Combate aos Poluentes (ACPO), Jeffer Castelo Branco, e o professor e ambientalista Élio Lopes dos Santos alegaram, em entrevista exclusiva ao Diário do Litoral, que a proposta da Valoriza Santos está longe de valorizar a Cidade. "É um verdadeiro engodo, pois a incineração de resíduos urbanos com altas taxas de umidade são incapazes de recuperar energia, além de gerar gases tóxicos e material particulado que, na nossa região, está acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)", afirma Branco.

"É um processo de alto custo, gerador de poluentes perigosos, muitos dos quais cancerígenos", acrescenta Lopes, completando que a usina vai contra a Lei Nacional de Resíduos Sólidos.