Pandemia da Covid-19 dispara a prática da automedicação

Venda de vitamina C aumenta 198%; paracetamol e dipirona também são mais procuradas

17 MAI 2020 • POR • 09h07
Farmacêuticos tentam alertar clientes sobre compras exageradas, mas nem todos escutam as orientações - NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL

Um levantamento realizado pela consultoria IQVIA, a pedido do Conselho Federal de Farmácia, apontou o aumento significativo nas vendas de medicamentos e vitaminas relacionados à Covid-19 nos primeiros meses desse ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Entre eles estão o ácido ascórbico (vitamina C), associado por fake news à prevenção da doença, que teve um crescimento de 198,23%; o paracetamol, com 83,56% a mais em sua comercialização e a dipirona sódica, com aumento de 51%.

Segundo Marco Fiaschetti, diretor executivo da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), as causas dessa procura maior não são certeiras, mas é possível afirmar que, para evitar ir aos hospitais, as pessoas estão tentando resolver suas queixas de saúde por conta própria e realizando de forma mais recorrente a automedicação.

"Além disso, há uma profusão muito grande de informações, incluindo promessas milagrosas de prevenção e cura, o que também pode gerar o aumento da busca por determinadas substâncias. Os dois casos são cenários que oferecem riscos à população", diz.

Já a vitamina C ajuda o sistema imunológico, mas não trata nem previne a Covid-19. A dipirona e o paracetamol são amplamente utilizados para aliviar sintomas como dor no corpo, dor de cabeça e febre, sintomas comuns na infecção pela Covid-19, e apesar de poderem ser comprados sem receita, não significa que devam ser usados livremente.

"Não existe nenhum medicamento que seja reconhecido pela ciência até o momento com efeito de prevenir a infecção pelo coronavírus. No que diz respeito à imunidade, é importante entender que, qualquer que seja o estado de saúde da pessoa, ela tem as mesmas chances de contrair a Covid-19, por isso é tão importante seguir as medidas de isolamento", alerta Marco.

REGIÃO

O aumento nas vendas dessas medicações foi sentido na Baixada Santista. De acordo com Monike Freitas, farmacêutica em uma drogaria em Cubatão, além das substâncias citadas, a venda de hidroxicloroquina e ivermectina também dispararam - ambas associadas de forma prematura a um possível tratamento do coronavírus.

"Tenho uma paciente que faz uso controlado da hidroxicloroquina e ficou sem devido à procura nos últimos meses. Isso mostra como há um problema de automedicação no país que piorou durante a pandemia, mas não vem de agora", analisa Monike.

Ela diz que os farmacêuticos tentam alertar os clientes quando percebem uma compra exagerada de medicamentos, mas que nem todos escutam as orientações dos profissionais.

Vale lembrar que o uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode causar, ainda, reações alérgicas, dependência e até a morte.