Artigo: Eleição Covid 2020

Com os primeiros efeitos da chegada da Covid-19, os alcaides adquiriram repentinamente uma bandeira para empunhar

11 MAI 2020 • POR • 13h16

Por Nilton Cesar Tristão

Parcela significativa de prefeitos em primeiro mandato adentraram o mês de janeiro desse ano em condições um tanto desfavoráveis para disputar o direito de permanecer no comando de seus municípios, uma vez que não haviam progredido em ações estruturantes, tão pouco desempenhado com excelência as atividades de zeladoria, principalmente no tocante à manutenção e conservação do espaço público.

De forma geral, não houve avanços a serem apresentados à opinião pública local, quando abruptamente no mês de março, com os primeiros efeitos da chegada do Sars-CoV-2, causador da pandemia de covid-19, são decretadas as quarentenas, e repentinamente, os alcaides adquiriram uma bandeira para empunhar.

Despojados de qualquer tipo de conhecimento, tecnologia, protocolos e convenções, mas amparados pela prerrogativa de contratar serviços e insumos sem processos licitatórios em decorrência da situação de calamidade pública, nossos burgomestres partiram em desenfreada carreira para superar os chineses na montagem de hospitais de campanha, geralmente destinados a procedimentos de baixa complexidade, mas comumente denominados como “centro de combate ao coronavírus”.

Passaram a participar de infindáveis “lives”, com o objetivo de explanar a respeito de um assunto que não dominam, transmitindo a convicção de que a gestão se encontra preparada para o enfrentamento da pandemia e  proteção da vida dos concidadãos. Nesse ambiente, imbuídos de espírito pródigo e afoitos para se apresentar enquanto heróis da saúde pública, adquiriram drones, cabines de desinfecção, máscaras e demais EPIs; organizaram equipes para lavagem de vias e emitiram decretos restringindo o funcionamento de empresas, entre outras iniciativas.

Todavia, essas atitudes alimentadas por recursos públicos, foram carentes de planejamento e estudo de eficácia. Assim, possivelmente, a partir do mês de junho, a objetividade dos fatos e os desacertos de tais condutas se tornarão visíveis aos olhos da coletividade, que perceberá que essa conta foi paga por meio da perda de vidas, em decorrência da proliferação do patógeno, e de empregos e renda, derivada da desarticulação da economia.

Diante destas sequelas inequívocas, surgirá a necessidade de um novo perfil para os governantes; um movimento com a envergadura de produzir administradores com discernimento para distinguir os limites entre os atos de governar e de se comunicar, que entendam as gestões enquanto égide da relevância dos feitos, ou seja, a recorrência da figura do estadista, um indivíduo capaz de crescer na adversidade e guiar-se pelo caminho do certo, afastando-se da sanha descomedida pela popularidade a qualquer custo. Em síntese, o ressurgimento de líderes genuinamente participativos para suplantar emergências reais.

Nilton Cesar Tristão
Cientista Político
Instituto Opinião Pesquisa e GovNet