Pedagoga cria biblioteca em Itanhaém

Espaço já conta com mais de 2 mil títulos. Objetivo é incentivar a leitura e abrir as portas do conhecimento.

26 AGO 2019 • POR • 09h12
Espaço é procurado por crianças e estudantes do bairro. - NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL

Promover rodas de contação de histórias, incentivar a leitura e abrir as portas do conhecimento. Essa é a intenção de dona Lydia da Silva Gonçalves, de 83 anos, pedagoga e escritora. Ela montou uma biblioteca comunitária na garagem de sua casa, no bairro Estância Santa Cruz, em Itanhaém. Alfabetizada após os 65 anos, ela acredita na educação e na cultura como as principais ferramentas para a transformação das pessoas.

Segundo ela, a ideia para montar uma biblioteca na garagem de sua casa surgiu há cerca de quatro anos, após se formar em Pedagogia. De início, a biblioteca começou com 500 livros, com a colaboração da Biblioteca Municipal "Poeta Paulo Bonfim" e também com a doação de alguns amigos.

"Como aqui é um lugar muito distante, fica difícil ter acesso aos livros na biblioteca municipal, no centro, então resolvi montar uma no meu bairro".

Atualmente, a biblioteca já conta com mais de 2 mil títulos. Nas prateleiras, estão disponíveis diversos gêneros, como romances, crônicas, poemas, romances espíritas, gibis, dicionários, enciclopédias, pesquisa, entre outros. Dona Lydia explica que os livros são emprestados e devolvidos, mas há quem prefira ler no próprio espaço.

Outra novidade são as rodas de contação de história que acontecem todo final do mês. "As crianças se reúnem e vêm aqui para ouvir as histórias. Outras contadoras também podem vir e alegrar as crianças", completa.

O espaço é mais procurado pelas crianças e estudantes que moram no bairro. Adultos também frequentam o local. "A importância da biblioteca é tirar a criança da internet. Essa nova geração ninguém conversa mais, não olha para as pessoas e não brinca mais de jogar bola, pião, e outras brincadeiras", ressalta

DETERMINADA

"Comecei a viver a vida após os 65 anos". Dona Lydia explica que não teve a oportunidade de estudar quando era mais nova. Ela se casou aos 15 anos e como ficou viúva nova, teve que criar os cinco filhos sozinha. Somente após os 65, ela conseguiu ir para a escola.

Formada no curso de Pedagogia na Faculdade de Itanhaém, ela cursou ainda mais dois anos de História. Hoje está no último semestre do curso de Direito, na Faculdade Unisepe, em Peruíbe. Dona Lydia vai mais além, "pretendo ainda fazer doutorado na área da Educação".

Dedicada aos estudos, ela já publicou três livros. Um deles na área da educação, e os outros dois sobre a trajetória de sua família e conhecidos de origem caiçara.

"Pretendo escrever outro livro sobre a minha biografia. Sou caiçara com orgulho e desejo registrar como era o modo de vida e a memória dos antigos moradores de Itanhaém. Todos deveriam saber ler e escrever", destaca.

LEITORES

Referência no bairro Estância Santa Cruz, dona Lydia é bastante conhecida. A biblioteca comunitária já virou ponto de encontro para muitos moradores do bairro, que fica a cerca de 14 quilômetros da região central.

Um exemplo é o casal Flávio Cândido e Jaqueline Silva, vizinhos da biblioteca. Eles têm três filhos com idades de 2 anos, 6 anos e 16 anos que frequentam o local. "As crianças adoram vir aqui para ler os livros infantis ou ouvir as histórias. É importante esse espaço e um incentivo à leitura, ainda mais nos dias de hoje com a internet", observa Cândido.

Outro leitor é o chileno Nathan Gonçalves Castro, de 12 anos, que também é frequentador assíduo. "Gosto de vir para ler gibis e a turma da Mônica".

A professora aposentada Elizabeth Cury Bechir Watanabe, formada em Administração, é uma das amigas e incentivadoras de dona Lydia. Ex-presidente e membro da Academia Itanhaense de Letras, ela destaca a importância da biblioteca.

"Ao abrir um espaço na casa dela, ela oferece a oportunidade aos vizinhos de ler um livro. Isso é uma iniciativa transformadora". Para ela, a leitura proporciona uma evolução na educação das pessoas.

A biblioteca comunitária fica aberta ao público, de segunda a sexta, das 9 às 17 horas. Funciona na rua Mogi das Cruzes, 310, no bairro Estância Santa Cruz, em Itanhaém.